GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 79
O árabe Nacib triunfava, sorria, olhava
com carinho seus fregueses. Gostava daquela profissão de dono de bar, daquelas
prosas, discussões, das partidas de gamão e damas, do joguinho de pocker.
-
Vamos à nossa partida… - convidava o
capitão.
-
Hoje, não. Muito movimento. E daqui
a pouco vou sair, procurar cozinheira.
O Doutor aceitou, foi sentar-se com o Capitão
ante o tabuleiro. Nhô-Galo foi um deles, jogaria com o vencedor. Enquanto
batiam as pedras, o Doutor ia contando:
-
Houve um caso parecido com um dos Ávilas…
Meteu-se com a mulher de um capataz, foi
um escândalo, o marido descobriu…
-
E capou seu parente?
-
Quem falou em castrar? O marido apareceu armado só que meu bisavô atirou antes
dele…
A
roda dissolvia-se aos poucos, aproximava-se a hora do jantar. Vindos do hotel
para o cinema, surgiam, como pela manhã, Diógenes e o casal de artistas.
Tonico Bastos queria detalhes:
-
Exclusividade de Mundinho?
Do tabuleiro do gamão, sentindo-se um
pouco senhor dos actos de Mundinho, o Capitão informava:
-
Não, não tem nada com ela. Está livre como um passarinho, à disposição…
Tonico assobiou entre dentes. O casal
dava boa-tarde. Anabela sorria.
-
Vou até lá, cumprimentá-la em nome da cidade…
-
Não misture a cidade nisso, seu malandro.
-
Cuidado com a navalha do marido… - riu Nhô-Galo.
-
Vou com você, disse o coronel Ribeirinho.
Mas não chegaram a ir, pois apareceu o
coronel Amâncio Leal e a curiosidade foi mais forte: sabiam todos ter-se Jesuíno
homiziado em sua casa, após o crime. Saciada sua vingança, retirara-se o
coronel calmamente, para evitar o flagrante.
Atravessara a cidade movimentada pela
feira, sem apressar o passo, fora para casa do amigo e companheiro dos tempos dos
barulhos, mandara avisar o juiz que no outro dia se apresentaria. Para ser
imediatamente enviado em paz, aguardar em liberdade o julgamento, como era
costume em casos idênticos.
O coronel Amâncio procurava alguém com
os olhos, aproximou-se do Dr. Maurício:
-
Podia dar-lhe uma palavra, Doutor?
Levantou-se o advogado, andaram os dois
para os fundos do bar, o fazendeiro dizia algo, Maurício balouçava a cabeça,
voltava para buscar o chapéu:
-
Com licença. Devo retirar-me.
O coronel Amâncio cumprimentava.
-
Boa tarde, senhores.
Tomavam pela Rua Coronel Adami, morava Amâncio
na Praça do Grupo Escolar. Alguns, mais curiosos, puseram-se de pé para vê-los
subindo a rua, silenciosos e graves como se acompanhassem procissão ou enterro.
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