sábado, abril 28, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 84


 - Inhô, sim.

Melk avistava Nacib, pilheriava:

 - Botou roça, Nacib; vem contratar alugados?

 - Quem sou eu, coronel… Busco cozinheira, a minha foi embora hoje…

 - E o que me diz do sucedido? O Jesuíno…

 - Pois é… Uma coisa assim, de repente…

 - Já lhe levei o meu abraço na casa do Amâncio.

 - É que subo para a fazenda ainda hoje, levando esses homens…

 - Com o sol, vai ser uma safra e tanto – mostrava os homens que seleccionara, agora agrupados a seu lado. – Esses sertanejos são bons no trabalho. Não é como essa gente daqui. Grapiúna não gosta de pegar no pesado, gosta é de ficar vagabundando na cidade…

Outro fazendeiro percorria os grupos; Melk continuava:

 - Sertanejo não mede trabalho, quer é ganhar dinheiro. Às cinco da manhã já estão na roça, só largam a enxada depois do sol deitar. Tendo feijão e carne seca, café e pinga, estão contentes. Pra mim não há trabalhador que valha esses sertanejos – afirmava como autoridade na matéria.

Nacib examinava os homens contratados pelo coronel, aprovava a escolha. Invejava o outro, dono de terras, montado em suas botas, contratando homens para a lavoura.

Quanto a ele, buscava apenas uma mulher não muito moça, séria, capaz de assegurar-lhe a limpeza da pequena casa da Ladeira de São Sebastião, a lavagem da roupa, a comida para ele, os tabuleiros para o bar. Nisso estivera o dia inteiro, andando de um lado para o outro.

 - Cozinheira por aqui é dureza… – dizia Melk.

Instintivamente, Nacib buscava entre as sertanejas alguma parecida com Filomena, mais ou menos da sua idade, com seu jeito resmungão. O coronel Melk apertava-lhe a mão, as canoas o esperavam já carregadas:

 - Jesuíno agiu direito, homem de honra…

Também Nacib vendia suas novidades:

 - Consta que vem um engenheiro estudar a barra.

 - Ouvi falar, tempo perdido, esta barra não tem conserto.

Nacib saíu andando entre os sertanejos. Velhos e moços lançavam-lhes olhares numa esperança. Poucas mulheres quase todas com filhos agarrados nas saias. Finalmente reparou numa de seus cinquenta anos, grandona, robusta, sem marido:

 - Ficou no caminho, inhô…

 - Sabe cozinhar?

 - Pra mesa posta, não.

Meu Deus onde podia arranjar cozinheira? Não podia ficar pagando fortunas às irmãs Dos Reis. E logo em dias de movimento, hoje assassinatos, amanhã enterros… E, ainda pior, ter de almoçar e jantar no hotel Coelho, aquela porcaria de comida sem gosto.
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