sexta-feira, abril 13, 2012

Sporting 0 Manchester 1
(Recordando a despedida de Ronaldo em 2003 – Estádio José Alvalade)

“Depois de muitos anos como adepto de sofá tive ontem a oportunidade de ver, olhos no relvado, o meu Sporting.

É certo, que no meu regresso aos estádios nem tudo foi agradável por causa daquela cena caricata em que fui apalpado e revistado e quase impedido de entrar por causa de uns simples binóculos que eu julgava serem inofensivos e inocentes.

Explicaram-me que era uma questão de segurança pois, de há uns anos a esta parte, pessoas perigosas têm vindo a insinuar-se junto dos pacíficos sócios e adeptos dos clubes de futebol para, a coberto de grandes ajuntamentos, darem vazão às suas frustrações e maus feitios.

Mas os receios eram infundados e foi num ambiente de saudável confraternização que me reencontrei com o pessoal da minha tribo naquele cenário electrizante, cheio de reflexos verdes e brancos a tremelicarem provocados por painéis agitados por milhares de braços num espectáculo de cor e brilho.

-Spór-ting e do outro topo respondiam, Spór-ting e mais uma vez e outra e ainda outra, numa comunhão de sons em uníssono que desafiavam os melhores coros da Gulbenkian.

O colega sentado ao meu lado acendeu nervosamente um cigarro e pediu-me desculpa pelo fumo que sobrava para mim:

-“Não consigo evitar… sabe, vim de Coimbra ver o nosso Sporting”.

- “Não tem importância, amigo…deixei de fumar há 12 anos e se hoje voltar a fumar um bocadinho do seu não faz mal”

Entretanto, à nossa volta, acendiam-se mais cigarros e o isqueiro do meu vizinho andava numa roda-viva, de mão em mão, com a naturalidade do usufruto de um bem pertencente à comunidade da tribo.

Um jovem casal de namorados, duas filas a seguir à minha, alheados do mundo, trocavam carinhos com a mesma naturalidade e à-vontade com que, mais abaixo, no relvado, os jogadores faziam exercícios de aquecimento.

Aguardava-se o início do jogo e os rostos espelhavam uma serenidade contida.

O adversário era uma das melhores equipas do mundo, das mais ricas e poderosas e mesmo que perdêssemos, a honra da “tribo” não sairia muito abalada.

Afinal, não nos podemos esquecer, que enquanto nós vamos buscar jogadores a custo zero eles nem sequer discutem os milhões com que adquirem os seus.

O jogo começou e o Manchester, em estilo de treino, como de quem não está para se maçar muito, ofereceu-nos o seu meio campo e “disse-nos: vejam lá se nos conseguem marcar um golo” e nós lá fomos: atacámos… atacámos…atacámos até que sofremos o golo que ditou o resultado final.

Sirva-nos de consolação de que perdemos com um auto-golo, claríssimo e assumido.

O Cristiano Ronaldo, às vezes, faz daquelas coisas… mas como, logo de seguida, pediu perdão de mãos postas e, além disso, encheu o campo com as suas avançadas mágicas, todos nós, sportinguistas, não só lhe perdoámos como ainda nos despedimos dele aplaudindo-o de pé.

Nesse momento senti-me orgulhoso da minha tribo. Cá para mim, ganhámos o jogo e Viv´ó Sporting!”


Nota - Se as averiguações em curso concluirem pelo envolvimento do Vice-Presidente, ex-candidato derrotado à Presidência do Club, nesta acção vergonhosa de descrédito de um árbito de futebol, espero que, independentemente de outras condenações, a Direcção o expulse de sócio pela vergonha que está a fazer passar todos os sportinguistas.

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