CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 102
Parêntesis da Advertência
Logo que o coronel trouxera e instalara
Glória na cidade – contou João Fulgêncio verdadeiro repositório de sucessos e
de histórias de Ilhéus – na melhor de suas casas, aquela onde, antes de
mudar-se para a capital, habitava sua família, escandalizando as solteironas,
Antoninho Bastos, tabelião, marido de mulher ciumenta e pai de duas lindas
crianças, rapaz tão elegante que aos domingos usava colete, o Don Juan da terra,
o filho bem-amado do coronel Ramiro Bastos, andara botando olhos compridos na
mulata.
Não se tratava da repetição do idílio de
Juca Viana e Chiqui nha. Já ouvira
Josué falar nessa antiga história? Mais tristes do que cómicos era um tanto
macabro esse humor ilheense.
No caso recente, não houvera passeios
pela praia, nem mãos dadas nas pontes do porto, não se arriscara ainda Tonico a
empurrar a porta nocturna de glória. Apenas dera de aparecer pelas tardes,
frequentemente em casa da rapariga, com presentinhos de bom-bons comprados no
bar do Nacib, a perguntar-lhe pela saúde ou se de algo necessitava. E olhares
caídos e palavras açucaradas. Daí não passara ainda mestre Tonico.
Tradicional amizade ligava o coronel
Coreolano á família Bastos. Ramiro Bastos baptizara-lhe um filho, eram
parceiros políticos, viam-se sempre. Disso aproveitava-se Tonico para explicar
à esposa, a gordíssima e ciumentíssima D. Olga, ser obrigado pelos laços de
afeição e de interesse político que o ligavam ao coronel, aquelas suspeitas
visitas, após o almoço, à casa mal habitada. D. Olga arfava o peito monumental,
ameaçava:
-
Se você é obrigado a ir, Tonico, se o coronel lhe pede, vá, por mim não se
acanhe. Mas tome sentido! Se eu souber de alguma coisa, ah!, se eu souber…
_ Nesse caso, filha, pra ficar
desconfiada, é melhor eu não ir. Só que prometi a Coreolano…
Língua de mel, esse Tonico como dizia o
Capitão. Para D. Olga não havia homem mais puro, pobre dela! Perseguido pelas
mulheres todas da cidade, raparigas, moças solteiras, mulheres casadas, marafonas
todas elas, sem excepção.
No entanto, por via das dúvidas, para
evitar que ele caísse na tentação, trazia-o sob controle. Mal sabia ela…
Assim, com paciência bombons, ia Tonico
“preparando a cama onde deitar-se”, como já se murmurava na Papelaria e no bar.
Mas antes de suceder o que certamente sucederia, o coronel Coriolano soube das
visitas, dos caramelos, dos olhares mortos. Apareceu inesperadamente em Ilhéus,
num meio de semana, entrou pela porta da casa de Tonico – onde também estava
instalado do cartório, cheio de gente àquela hora.
Antoninho Bastos acolheu o amigo com
expressões ruidosas e palmadinhas nas costas, sendo, como era, homem
extremamente cordial e simpático. Coriolano deixou agradar-se, aceitou a
cadeira, sentou-se, batia com o rebenque nas botas sujas de lama, disse sem
elevar a voz:
- Seu Tonico, chegou aos meus ouvidos que vosmicê está-se bandeando prós
lados da casa da minha afilhada. Eu prezo muito a sua amizade, seu Tonico. Lhe
vi menino em casa de compadre Ramiro. Por isso vou dar um conselho a vosmicê,
conselho de amigo velho: não apareça mais por lá. Eu apreciava também muito
Juca Viana, filho do finado Viana, meu companheiro de pocker, vi Juca pequenino
também. Vosmicê se lembra do que sucedeu com ele? Coisa de lastimar, coitado,
ele foi-se meter com mulher dos outros…
Havia um silêncio aflito no escritório,
Tonico gaguejou:
-
Mas, coronel…
(Click na imagem... "fruto exótico das margens do amazonas...")
<< Home