Episódio Nº 90
_ Tomei de empregada. Pra lavar e
cozinhar.
D. Arminda examinava a retirante, de
alto a baixo, como a medi-la e a pesá-la. Oferecia seus préstimos:
-
Se precisar de alguma coisa menina, é só me chamar, não é? Só que hoje de noite
não vou estar. É dia de sessão em casa do compadre Deodoro, dia de o finado
conversar comigo…
É até capaz que dona Sinhàzinha apareça…
– Seus olhos iam de Gabriela para Nacib – Moça, hem? Agora não quer mais velhas
como Filomena… – Ria seu riso cúmplice.
-
Foi o que arranjei…
-
Pois como eu ia dizendo: para mim não foi surpresa: ainda o outro dia vi o tal
dentista na rua. Por coincidência era dia de sessão, hoje faz uma semana
direitinho.
Olhei para ele e ouvi a voz do finado no
meu ouvido dizendo: «Tá aí, todo prosa, tá morto.» Pensei que o finado tava
brincando. Só hoje quando soube, é que me dei conta, o finado tava-me avisando.
Voltava-se para Gabriela. Nacib já tinha
entrado.
-
Qualquer coisa que precise, é só chamar. Amanhã a gente conversa. Tou aqui pra ajudar, seu Nacib é mesmo que parente. É
patrão de meu Chico…
-
Nacib mostrou-lhe o quarto no qui ntal,
antes ocupado por Filomena, explicara-lhe o serviço: arrumação da casa, lavagem
de roupa suja, cozinhar para ele. Não falou dos doces e salgados para o bar,
primeiro queria ver que espécie de comida ela sabia fazer.
Mostrara-lhe a dispensa, onde Chico
Moleza deixara as compras da feira.
-
Qualquer coisa pergunte a D. Arminda.
Estava com pressa, a noite chegara, o
bar em pouco ficaria novamente cheio e ele ainda devia jantar. Na sala,
Gabriela, os olhos arregalados, olhava o mar nocturno, era a primeira vez que o
via. Nacib disse-lhe em despedida:
-
E tome um banho, está precisada.
No Hotel Coelho encontrou Mundinho Falcão, o
Capitão e o Doutor jantando juntos. Sentou-se, naturalmente na, mesa deles, foi
logo contando da cozinheira. Os outros ouviam em silêncio. Nacib
compreendeu ter interrompido conversa importante. Falaram do crime da tarde,
ele apenas iniciara o jantar quando os amigos, já no fim, se retiraram.
Ficou a reflectir. Aqueles três andavam
arqui tectando coisas. Que diabo
seria?
O bar, naquela noite, não lhe deu
descanso. Andou numa roda-viva, as mesas cheias, todo o mundo querendo comentar
os acontecimentos. Por volta das dez horas o Capitão e o Doutor apareceram,
acompanhados de Clóvis Costa, o director do Diário de Ilhéus. Vinham da casa de
Mundinho Falcão, anunciaram que o explorador apareceria no Bataclan por volta
da meia-noite para a estreia de Anabela. Clóvis e o Doutor conversavam em voz
baixa, Nacib apurou o ouvido.
Noutra mesa, Tonico Bastos contava do
jantar, verdadeiro banquete, em casa de Amâncio Leal. Com vários amigos de
Jesuíno Mendonça, inclusive o Dr. Maurício Caíres, encarregado da defesa do
coronel. Regabofe monumental, com vinho português, comida e bebida em abundância. Nhô-Galo
achava aqui lo um absurdo. Com o
corpo da mulher ainda quente, não havia direito…
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