GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 89
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É um homem de muita ambição. Mas como vai poder resolver o caso da barra, se
nem compadre Ramiro deu jeito? – Melk falava sobre Mundinho Falcão.
A mão de Clemente acariciou a harmónica
no fundo da canoa, ouviu a voz de Gabriela cantando. Olhou em torno, como a
procurá-la. A selva cercando o rio, árvores e um intricado de cipós, gritos
amedrontadores e pios agoirentos de corujas, uma exuberância de verde
fazendo-se negro, não era como a caatinga cinzenta e nua. Um remeiro estendeu o
dedo, mostrando um lugar na mata.
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Foi por aqui o tiroteio entre Onofre
e os cabras de seu Amâncio Leal… Morreu bem uns dez.
Dinheiro a ganhar naquela terra, era
preciso não ter medo do trabalho. Ganhar dinheiro e voltar à cidade em busca de
Gabriela. Haveria de encontrá-la, fosse como fosse.
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Melhor é não pensar, tirar ela da cabeça – aconselhou Fagundes. Os olhos do
negro perscrutavam a selva, sua voz fez-se suave para falar de Gabriela – Tira
ela da cabeça. Não é mulher para tu nem para mim. Não é como essas quengas, é…
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Tou com ela metida em meu juízo, mesmo querendo não posso.
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Tu tá maluco. Ela não é mulher para se viver com ela.
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Que é que tu tá dizendo?
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Num sei… Pra mim é assim. Tu pode dormir com ela fazer as coisas. Mas ter ela
mesmo, ser dono dela como é de outras, isso ninguém vai nunca ser.
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E porquê?
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Num sei, o Diabo é que sabe. Num tem explicação.
Sim, o negro Fagundes tinha razão.
Dormiam juntos à noite, no outro dia era como se ela não se recordasse,
olhava-o como aos outros, tratava-o como os demais. Como se não tivesse nenhuma
importância…
As sombras cobrem e cercam a canoa, a
selva parece aproximar-se mais e mais, fechando-se sobre eles. O pio das
corujas corta a escuridão. Noite sem Gabriela, seu corpo moreno, seu riso sem
motivo, sua boca de pitanga.
Nem lhe disse até logo. Mulher sem
explicação. Uma dor sobe pelo peito de Clemente. E de súbito a certeza de que
jamais voltará a vê-la, tê-la nos braços, esmagá-la contra o peito, ouvir seus
ais de amor.
O coronel Melk Tavares, no silêncio da
noite, ergueu a voz, ordenou a clemente.
Toca alguma coisa prá gente, rapaz. Pra
disfarçar o tempo.
Tomou da harmónica. Entre as árvores
crescia a Lua sobre o rio. Clemente enxerga o rosto de Gabriela. Brilham luzes
de fifós e lamparinas ao longe. A música se eleva num choro de homem perdido,
solitário para sempre. Na selva, rindo, aos raios da Lua, Gabriela.
Gabriela Adormecida
Nacib a levara até casa na ladeira de
São Sebastião. Apenas meteu a chave na fechadura e D. Arminda, fremente,
apareceu na janela:
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Que coisa, hem, seu Nacib? Parecia tão distinta, tão cheia de nós pelas costas,
toda a tarde na igreja. É por isso que eu digo sempre… bateu os olhos em
Gabriela, ficou com a frase suspensa.
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