HOJE É DOMINGO
(Na
minha cidade de Santarém)
Quando a situação é muito má, quando
patinamos para qualquer lado à procura de uma saída, quando as portas se fecham
e o desespero nos assalta, está na hora da solução estapafúrdia, metafórica, e aqui entra o Ricardo Araújo Pereira aproveitando
a ideia do Ministro Álvaro (o Álvaro) que apontou para os pastéis de nata, ou o
Futre para os charteres cheios de chineses ou o D. João II apontando o mar, a Sul.
No fundo, o que todos eles nos estavam a apontar era o futuro.
Vamos rever o texto do Ricardo, escrito em
fins de Janeiro último, quando não pensávamos ainda em vender a EDP aos
chineses…
«Quando o ministro Álvaro
apontou para o pastel de nata, os parvos olharam mesmo para o pastel de nata.
Era dos raros casos em que deveriam ter olhado para o dedo. Teriam constatado
que se trata do mesmo dedo com que D. João II apontou para a Índia. Um, disse
"Oriente" e o outro disse "pastel de nata", mas ambos qui seram dizer "futuro". Neste momento, é
óbvio que a aventura dos Descobrimentos teve, como propósito principal (para
não dizer exclusivo), o de ir à Índia buscar a canela que hoje faz falta para
polvilhar os pastéis de nata. Entre o Príncipe Perfeito e o Álvaro há apenas
uma diferença: o segundo não tem um Camões que verta em decassílabos heróicos a
gesta da pastelaria.
Assim, como D. João II teve no
Infante D. Henrique um antecessor visionário, também o Álvaro se apresenta às
cavalitas de um gigante: Paulo Futre. A exportação de pastéis de nata é o equi valente político da importação de chineses - que
foi também, note-se, um projecto de crescimento dirigido para Oriente.
Examinemos a ideia do Álvaro
com a atenção que merece. Se cada pastel de nata for vendido ao preço
competitivo de um euro, e supondo que alguém nos oferece todos os ingredientes,
basta que Portugal venda 78 mil milhões de pastéis de nata para pagar a dívida.
Sabendo que o mundo conta, neste momento, com 7 mil milhões de potenciais
consumidores de pastéis de nata, a venda de 11,1 pastéis a cada habitante
resolve-nos o problema. Não chega a dois cartuchos de pastéis por pessoa, e
ainda por cima é por uma boa causa. Se, com os 11,1 pastéis, impingirmos uma
bica a cada cliente, ainda nos sobra dinheiro para acabar umas obras que estão
paradas por falta de verba na Madeira.
Os críticos que pretenderam
reduzir a ideia do Álvaro aos seus aspectos mais folclóricos não perceberam, ou
não qui seram perceber, que o
projecto não pode ser confinado à exportação dos pastéis, mas deve ser
integrado numa estratégia de desenvolvimento global. A produção e venda de 78
mil milhões de pastéis fará de Portugal o maior produtor mundial de colesterol.
Um investimento paralelo em medicina cardiovascular poderá projectar internacionalmente
a ciência portuguesa e contribuir para manter relações comerciais múltiplas com
a estrangeirada lambona, que passa a frequentar-nos tanto a pastelaria como o
consultório médico. Mãos à nata.»
Como vêm, é tudo uma questão de imaginação,
deixar soltar o delírio que existe em nós, a aventura dos portugueses de qui nhentos… Ainda não chegamos a esse momento mas, "entre o desespero que me mata prefiro a loucura que me transporta...”.
(click na imagem da Praça Sá de Bandeira)
<< Home