domingo, maio 13, 2012


HOJE É 

DOMINGO

Não mais falei da crise, parece-me tão inútil… Os comentadores, especialistas e políticos esgotam o assunto repetindo as mesmas coisas que nós já ouvimos e voltamos a ouvir porque tudo já foi dito.

Para os cidadãos ficam as queixas, os desabafos e protestos. A pior realidade é um desemprego imparável acima dos 15%... Aqueles que se limitam a empobrecer podem dar-se por felizes. Pode-se viver com menos dinheiro, não pode é viver-se sem dinheiro algum.

Lembro-me, uma vez, ao volante do meu carro, numa curva da estrada à beira mar cheia de areia que o vento tinha empurrado da praia, perder o controle da direcção e sentir a angústia do que era deixar de ser senhor do destino, então, apenas do automóvel…

O país, os governantes e os governados sentem agora o mesmo tipo de angústia: para onde vamos? O que nos vai acontecer? O carro, digo, o país, irá retomar o rumo? Quando? À custa de quê?

Num contexto de tão grande complexidade e com tantas implicações damo-nos conta, de repente, que o mundo estreitou, ficou mais pequenino.

Ainda no outro dia combatia nas matas de Angola “uns miseráveis terroristas” e hoje, a filha do Presidente “deles” manda os seus emissários ao meu país comprar o que de melhor nós temos para vender… a ZON, o BPI, A GALP pelo que passei a seu freguês… Refiro isto apenas como mais uma das ironias da vida…

Os chineses, aqueles tipos pequeninos e esquisitos de terras longínquas, são procurados como salvadores da pátria fazendo-nos o favor de ficarem com a EDP e até, ao que dizem, o Presidente do meu Sporting, que era de Portugal, anda a ver se lhes consegue vender o Clube.

É tudo de tal forma novo que nos sentimos atordoados.

Parece existir um novo senhor, todo-poderoso, sem pátria, nem raça, ou cara, Império Financeiro, que acumulou tanto dinheiro e tanto poder que manda nos países e no mundo. Dinheiro titulado por fundos de investimento que não resultou da produção de riqueza efectiva, da economia em concreto, mas apenas de simples clicks em teclados de computadores que são ordens: ordens de compras e de vendas.

Controle e especulação sobre produtos estratégicos, concorrência sem barreiras entre economias e sociedades de países tão desiguais como o pequenino Portugal e a imensa China provoca uma inevitável vaga de desempregados…

Os políticos já não mandam, não governam, vão se entretendo a dizer coisas tolas para entreter o pessoal como a da reposição dos subsídios de Natal e de Férias lá para o Ano de 2018 mas, de facto, eles nem sabem o que nos vai acontecer amanhã.

Talvez fosse melhor gastarem o tempo em dar andamento mais rápido às reformas do Estado e pensarem como ajudar o crescimento da riqueza nacional para com ela poderem, então, repor os tais subsídios ou, de preferência, a criarem emprego e melhorar os salários. Isso bastava-nos…

Homens bons, como o Miguel Portas, que no palco da política europeia, em Bruxelas, denunciava estas situações e, contra os seus próprios interesses, chamava a atenção para o agravamento das desigualdades e para o descaramento daqueles que tendo poder se aumentavam a si próprios como se a crise fosse uma invenção. Faleceu pregando no deserto…

A tensão vai aumentando entre os povos da comunidade europeia e muito do voto nas eleições francesas e grega, especialmente desta última, foi de protesto, de raiva contra os políticos., dizem que eles não se podem uns com aos outros…

Os nacionalismos manifestam-se descaradamente no ódio contra os estrangeiros, especialmente contra os muçulmanos. Amanhã será simplesmente contra os outros… os que não cortam o cabelo, os que não esticam o braço como eu esticava, quando miúdo, andava na escola e era obrigado a fardar-me da Mocidade Portuguesa.

Rigor nos gastos e prosperidade são complementares. Temos que esquecer a vida fácil e pensar em velhos princípios de que a vida não pode ser construída de expedientes e se queremos viver bem temos que o fazer à custa das nossas qualidades de trabalho e de imaginação.

Milhões e milhões de euros que entraram diariamente neste país durante anos sob a forma de apoios comunitários, crédito fácil, juros baixos, criaram uma riqueza fictícia e pior ainda, hábitos perigosos de consumo que não eram sustentáveis.

Temos outro Portugal que não tínhamos há trinta e tal anos anos, é verdade, basta viajar por este país fora. Mas temos, igualmente, uma dívida impensável que nos colocou na dependência dos credores.

Também é verdade que acontecimentos exteriores ao país a nível financeiro que começaram com a crise do sub-prime em 2006, nos E.U.A. no mercado imobiliário, foram-nos desfavoráveis mas que dizer de uma actividade governativa que raiava o delírio?

 Só em projectos, estudos e, provavelmente, indemnizações relacionadas com obras que nunca se realizarão, iremos pagar mais de 500 milhões de euros e, por falta de controle do Banco de Portugal e de outros Departamentos do Estado, serão milhares de milhões em dívidas do BPN.  

A anterior ministra da Educação, àquele projecto megalómano do Parque Escolar (orçado em 3,2 mil milhões) chamou-lhe “uma festa para o país”. Entretanto, a obra foi travada…

Num país em que os Telejornais se tornaram exercícios de masoquismo resta-nos continuar a acreditar em nós, mais, a gostar de nós, tentando, de forma inteligente, mudar de hábitos, de forma de viver, de ser felizes de outra maneira.

Pessoalmente, não acredito que saiamos deste aperto só por nós o que é válido para qualquer outro país da Europa isoladamente no curto ou médio prazo.

Será que conseguiremos transformar os nacionalismos em europeísmo via Federalismo?

Que raio, 400 milhões de pessoas das mais cultas, das mais avançadas do ponto de vista da democracia, de uma zona do globo berço das liberdades e dos direitos humanos, não irão ser capazes de pôr em prática uma solução que, de resto, já encontraram?

Lembram-se do que aconteceu na Europa em 1914? (1ª G.G.) e em 1939? (2ª G.G.), ano em que eu nasci … e não é preciso recuar mais na história porque seria um nunca mais acabar de desentendimentos sangrentos.

Pelo menos, que desta vez, a história nos ensine alguma coisa para impedir o pior desfecho de todos.


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