HOJE É
DOMINGO
Não mais falei da crise, parece-me tão
inútil… Os comentadores, especialistas e políticos esgotam o assunto repetindo
as mesmas coisas que nós já ouvimos e voltamos a ouvir porque tudo já foi dito.
Para os cidadãos ficam as queixas, os
desabafos e protestos. A pior realidade é um desemprego imparável acima dos 15%...
Aqueles que se limitam a empobrecer podem dar-se por felizes. Pode-se viver com
menos dinheiro, não pode é viver-se sem dinheiro algum.
Lembro-me, uma vez, ao volante do meu carro,
numa curva da estrada à beira mar cheia de areia que o vento tinha empurrado da
praia, perder o controle da direcção e sentir a angústia do que era deixar de
ser senhor do destino, então, apenas do automóvel…
O país, os governantes e os governados sentem
agora o mesmo tipo de angústia: para onde vamos? O que nos vai acontecer? O
carro, digo, o país, irá retomar o rumo? Quando? À custa de quê?
Num contexto de tão grande complexidade
e com tantas implicações damo-nos conta, de repente, que o mundo estreitou,
ficou mais pequenino.
Ainda no outro dia combatia nas matas de
Angola “uns miseráveis terroristas” e hoje, a filha do Presidente “deles” manda
os seus emissários ao meu país comprar o que de melhor nós temos para vender… a
ZON, o BPI, A GALP pelo que passei a seu freguês… Refiro isto apenas como mais
uma das ironias da vida…
Os chineses, aqueles tipos pequeninos e
esqui sitos de terras longínquas, são
procurados como salvadores da pátria fazendo-nos o favor de ficarem com a EDP e
até, ao que dizem, o Presidente do meu Sporting, que era de Portugal, anda a
ver se lhes consegue vender o Clube.
É tudo de tal forma novo que nos
sentimos atordoados.
Parece existir um novo senhor, todo-poderoso,
sem pátria, nem raça, ou cara, Império Financeiro, que acumulou tanto dinheiro e tanto poder que
manda nos países e no mundo. Dinheiro titulado por fundos de investimento que
não resultou da produção de riqueza efectiva, da economia em concreto, mas
apenas de simples clicks em teclados de computadores que são ordens: ordens de
compras e de vendas.
Controle e especulação sobre produtos
estratégicos, concorrência sem barreiras entre economias e sociedades de países
tão desiguais como o pequenino Portugal e a imensa China provoca uma inevitável
vaga de desempregados…
Os políticos já não mandam, não
governam, vão se entretendo a dizer coisas tolas para entreter o pessoal como a
da reposição dos subsídios de Natal e de Férias lá para o Ano de 2018 mas, de
facto, eles nem sabem o que nos vai acontecer amanhã.
Talvez fosse melhor gastarem o tempo em
dar andamento mais rápido às reformas do Estado e pensarem como ajudar o
crescimento da riqueza nacional para com ela poderem, então, repor os tais subsídios
ou, de preferência, a criarem emprego e melhorar os salários. Isso bastava-nos…
Homens bons, como o Miguel Portas, que
no palco da política europeia, em Bruxelas, denunciava estas situações e,
contra os seus próprios interesses, chamava a atenção para o agravamento das
desigualdades e para o descaramento daqueles que tendo poder se aumentavam a si
próprios como se a crise fosse uma invenção. Faleceu pregando no deserto…
A tensão vai aumentando entre os povos
da comunidade europeia e muito do voto nas eleições francesas e grega,
especialmente desta última, foi de protesto, de raiva contra os políticos.,
dizem que eles não se podem uns com aos outros…
Os nacionalismos manifestam-se
descaradamente no ódio contra os estrangeiros, especialmente contra os
muçulmanos. Amanhã será simplesmente contra os outros… os que não cortam o
cabelo, os que não esticam o braço como eu esticava, quando miúdo, andava na
escola e era obrigado a fardar-me da Mocidade Portuguesa.
Rigor nos gastos e prosperidade são
complementares. Temos que esquecer a vida fácil e pensar em velhos princípios
de que a vida não pode ser construída de expedientes e se queremos viver bem
temos que o fazer à custa das nossas qualidades de trabalho e de imaginação.
Milhões e milhões de euros que entraram
diariamente neste país durante anos sob a forma de apoios comunitários, crédito
fácil, juros baixos, criaram uma riqueza fictícia e pior ainda, hábitos
perigosos de consumo que não eram sustentáveis.
Temos outro Portugal que não tínhamos há
trinta e tal anos anos, é verdade, basta viajar por este país fora. Mas temos,
igualmente, uma dívida impensável que nos colocou na dependência dos credores.
Também é verdade que acontecimentos exteriores ao país a
nível financeiro que começaram com a crise do sub-prime em 2006, nos E.U.A. no mercado imobiliário, foram-nos desfavoráveis mas que dizer de
uma actividade governativa que raiava o delírio?
Só
em projectos, estudos e, provavelmente, indemnizações relacionadas com obras
que nunca se realizarão, iremos pagar mais de 500 milhões de euros e, por falta
de controle do Banco de Portugal e de outros Departamentos do Estado, serão
milhares de milhões em dívidas do BPN.
A anterior ministra da Educação, àquele
projecto megalómano do Parque Escolar (orçado em 3,2 mil milhões) chamou-lhe
“uma festa para o país”. Entretanto, a obra foi travada…
Num país em que os Telejornais se
tornaram exercícios de masoqui smo
resta-nos continuar a acreditar em nós, mais, a gostar de nós, tentando, de
forma inteligente, mudar de hábitos, de forma de viver, de ser felizes de outra
maneira.
Pessoalmente, não acredito que saiamos
deste aperto só por nós o que é válido para qualquer outro país da Europa
isoladamente no curto ou médio prazo.
Será que conseguiremos transformar os
nacionalismos em europeísmo via Federalismo?
Que raio, 400 milhões de pessoas das
mais cultas, das mais avançadas do ponto de vista da democracia, de uma zona do
globo berço das liberdades e dos direitos humanos, não irão ser capazes de pôr
em prática uma solução que, de resto, já encontraram?
Lembram-se do que aconteceu na Europa em
1914? (1ª G.G.) e em 1939? (2ª G.G.), ano em que eu nasci … e não é preciso
recuar mais na história porque seria um nunca mais acabar de desentendimentos
sangrentos.
Pelo menos, que desta vez, a história
nos ensine alguma coisa para impedir o pior desfecho de todos.
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