DOMINGO
No Hoje é Domingo, um bocadinho a
reboque dos tempos que correm, lembrei-me de vos falar do exercício da futurologia,
mais prosaicamente, a adivinhação do dia de amanhã.
O difícil, aliciante e irresistível neste
exercício é de que as nossas previsões não traduzam, mesmo inconscientemente,
os nossos desejos, correspondam aos nossos interesses materiais, ideológicos, sentimentais ou, pelo contrário, aos nossos receios e temores, condicionando e enviesando sempre o comportamento dos outros na tentativa de “driblar”
o futuro.
Jesus Cristo confundiu os seus desejos
com a realidade futura e enganou-se. Acreditou no fim do mundo e na vinda do
Reino de Deus… afirmou-o, prometeu-o. Por isso, ou por um simples e ingénuo
desejo de justiça igualitária, alguns dos seus seguidores, os ricos, venderam
tudo o que tinham, distribuíram os bens pelos pobres e ficaram em paz a
aguardar o fim do mundo prometido pelo mestre.
Mesmo enganando-se nas previsões de fim
do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus Cristo, terá sido
o homem que mais influenciou os destinos de toda a humanidade. Falhou como
futurologista, acertou em cheio como mensageiro e, no essencial, com a mensagem.
Depois de Jesus Cristo, muitos outros
têm previsto o fim do mundo (a mais apocalíptica das previsões…) e se
continuarmos nesta senda corremos o risco de, com previsão ou sem ela, ele
acabar mesmo, pelo menos tal como o conhecemos hoje.
Na realidade, todos os dias ele acaba para os
que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens que se alteram,
mas isso já não é futurologia…
Menos perigoso, quase ingénuo ou
inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões
sobre aquilo que teria sido o presente se tivéssemos podido alterar o passado.
Por exemplo: como teria sido a vida dos
portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos Cravos,
em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem morrido
num estranho acidente de avioneta na noite fatídica de 4 de Dezembro de 1980?
Como estaríamos nós agora se não
tivessem descoberto e posto em prática essa “engenharia” das PPP (Parcerias
Público Privadas) que é uma maneira de hipotecar o futuro como se o mundo
acabasse amanhã?
Mas nesta história do se… abre-se agora
uma nova janela, aliciante, que nos permitirá regressar ao passado e alterá-lo
criando um outro futuro mais ao nosso jeito, pelo menos diferente deste. E
como?
-
Cavalgando um Neutrino.
-
Ah!, os meus amigos não sabem o que é um Neutrino? É uma partícula subatómica
que os físicos europeus já afirmam ser mais rápida que a luz (o que diria
Einstein?…) o que, a ser verdade e em hipótese, permitir-nos-á viajar no tempo, regressar
ao passado, andar para trás, “voltar lá…”, estão a perceber… Cavalgando um
Neutrino, meteríamos os Drs. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa num avião
como deve ser e não aquele “cangalho desafinado e a cair de velho” ou então não
teríamos permitido que um criminoso lhe colasse uma bomba antes dele levantar
voo, teríamos impedido as PPP daquela maneira desenfreada que nos vão custar
50.000 milhões, lá para 2017 (o que faz de Portugal o campeão europeu das PPP),
etc… etc…”
É esta capacidade que a nossa espécie,
Homo Sapiens Sapiens, temos e mais nenhuma possui: fazer voar a nossa imaginação,
sonhar através dela, recriar a realidade, construir só para nós uma outra onde
seremos felizes para sempre… como nas histórias da nossa avózinha!
Numa entrevista com um físico japonês
especialista nas Teorias de Einstein perguntaram-lhe:
-
Bem, e se pudermos viajar no tempo, regressar ao passado e alterá-lo como fica
depois a realidade?
-
Ficarão duas realidades, a que estava continua e começa outra a partir dos
factos alterados… respondeu ele.
Ou seja, digo eu, teríamos um Portugal
sem Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, que já conhecemos, que o vivemos
inclusivamente, e um outro resultante da continuação entre nós daqueles dois
grandes políticos que começaria no exacto momento em que interferíamos no
passado impedindo-os de entrarem no calhambeque voador e assassino…
A confusão seria tanta que o preferível
é mesmo o Neutrino aceitar a velocidade da luz estabelecida por Einstein como a
velocidade máxima… e deixar à imaginação o que é da imaginação e à realidade o
que é da realidade.
Aliciante para os escritores de ficção
científica…
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