CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 124
Pois, apenas haviam-se
encostado ao balcão, servindo-se Tonico do amargo, e já Nacib para ir varrer
suas melancolias, lhe foi dizendo:
- Então o homem chegou finalmente… Mundinho
levou um tento, essa é a verdade.
Tonico, sorumbático
botou-lhe uns olhos maus:
- Porque você não cuida da sua vida, seu
turco? Quem avisa amigo é. Em vez de ficar falando tolices, porque não fica
tomando conta do que é seu?
Queria Tonico apenas
evitar o assunto do engenheiro, ou sabia de alguma coisa?
- Que quer você dizer com isso?
- Cuide do seu tesouro. Tem gente querendo
roubar.
- Tesouro?
- Gabriela, bestalhão. Até casa querem botar
para ela.
- O Juiz?
- Ele também? Ouvi falar de Manuel das Onças.
Não seria intriga de Tonico? O velho coronel estava muito do lado de Mundinho…
Mas, também era verdade, agora aparecia em Ilhéus constantemente, não arredava
do bar.
Nacib estremeceu; viria do
mar aquele vento gelado? Apanhou no escondido do balcão uma garrafa de conhaque
sem mistura, serviu-se um trago respeitável. Quis puxar mais por Tonico, porém
o tabelião arrenegava de Ilhéus:
- Merda de terra atrasada que se alvoroça toda
com a presença de um engenheiro. Como se fosse coisa do outro mundo.
De conversas e acontecimentos
com auto-de-fé.
Com o decorrer da tarde
cresceram nostalgias no peito de Nacib, como se Gabriela já não estivesse,
inevitável fosse sua partida. Decidiu comprar-lhe uma lembrança, necessitada
estava de um par de sapatos. Andava descalça o tempo todo em casa, vinha de
chinelas ao bar, não ficava bem.
Uma vez Nacib já
reclamara: “Arranje uns sapatos”, brincando na cama, coçando seus pés. Os
tempos na roça, a caminhada do serão para o Sul, o hábito de andar de pés no
chão, não os haviam deformado, ela calçava número 36, eram apenas um pouco
esparramados, o dedo grande engraçado, para um lado. Cada detalhe recordado
enchia-o de ternura e de saudade, como se a houvesse perdido.
Vinha com o embrulho rua
abaixo, uns sapatos amarelos, pareciam-lhe lindos, avistou a Papelaria Modelo em efervescência. Não
pôde resistir, estava mesmo precisando de distracções, para lá se dirigiu.
As poucas cadeiras em
frente ao balcão todas ocupadas, havia gente em pé. Nacib sentiu dentro
de si renascer, ainda indecisa chama, a curiosidade. Comentariam sobre o
engenheiro, fariam previsões acerca da luta política. Apressou o passo, viu o
Dr. Ezequi el Prado agitando os
braços. Escutou, ao chegar suas últimas palavras.
…falta de respeito à sociedade e ao povo…
(click na imagem de Nacib que parece estar a "despertar" para uma nova realidade na sua vida: não mais pode passar sem Gabriela na sua vida)
<< Home