sábado, junho 16, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 126


É verdade que o padre Cecílio, com sua magreza e seu ar místico, reprovara-lhes o gesto. O padre Basílio, ao saber, comentara:

 - Cecílio é um pernóstico, gosta mais das penas do Inferno que dos gozos do Céu. Não se importem, minhas filhas, eu as absolvo.

Em torno do pai desconsolado e activo iam o Dr. Ezequiel, o Capitão, Nhô-Galo, o próprio Mundinho Falcão. Não fora ele quase vizinho do dentista, seu companheiro nos banhos de mar? Coroas mortuárias as que haviam faltado no enterro: flores em profusão, as que haviam recusado ao esquife.

Mármore mortuário cobria agora a cova rasa, uma inscrição com o nome de Osmundo, data de nascimento e morte e, para que o crime não fosse esquecido, duas palavras gravadas a buril: «Covardemente Assassinado».

O Dr. Ezequiel começara a agitar o caso. Requerera a prisão preventiva do fazendeiro, o Juiz recusou, ele apelara para o Tribunal da Baía, onde o recurso esperava julgamento. Diziam ter-lhe o pai de Osmundo prometido cinquenta contos de réis, uma fortuna!, se ele conseguisse botar o coronel na cadeia.

Pouco duraram os comentários sobre Jesuíno Mendonça. A sensação do dia era o engenheiro. Ezequiel não conseguira transmitir ao auditório sua indignação bem paga, terminou também ele na conversa sobre o caso da barra e suas consequências:

 - Bem feito para quebrar o topete desse velho jagunço.

 - Não me diga que você também vai apoiar Mundinho Falcão? – perguntou João Fulgêncio.

 - E o que me impede? – replicava o advogado.

 - Acompanhei os Bastos um ror de tempo, advoguei várias causas para eles e que recompensa tive? A eleição para conselheiro? Com eles ou sem eles me elejo quantas vezes quiser. Na hora de escolher o presidente do Conselho Municipal preferiram Melk Tavares, analfabeto de pai e mãe. Isso que meu nome já estava falado, era coisa assente.

 - E faz muito bem – a voz fanhosa de Nhô-Galo – Mundinho Falcão tem outra mentalidade. Com ele no governo muita coisa vai mudar em Ilhéus. Se eu fosse homem de influência, estava nessa panela…

Nacib comentou:

 - O engenheiro é simpático. Tipo atleta, hem? Parece mais artista de cinema… Vai virar a cabeça de muita menina…

 - É casado – informou João Fulgêncio.

 - Separado da mulher… - completou Nhô-Galo.

Como já sabiam daquelas intimidades do engenheiro? João Fulgêncio explicava: ele próprio contara depois do almoço quando o Capitão o trouxera à Papelaria. A mulher era maluca, estava num sanatório.

Sabe quem está neste momento conversando com Mundinho? – perguntou Clóvis Costa, até então calado, olhos na rua, esperando ver os moleques a vozear o Diário de Ilhéus.

 - Quem?

 - O coronel Altino Brandão… Vende este ano sua safra a Mundinho. E pode ser que negocie seus votos também… - Mudava o tom de voz – Porque diabo não está o jornal já circulando?
(Click na imagem da jovem meditando nos mistérios da noite)

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