terça-feira, junho 26, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 134


Quero não… quero não, Dª Arminda. Pra quê, não é? É melhor não bulir com os mortos, deixar eles em paz. Gosto disso não… – Coçava a barriga do gato, o ronronar crescia.

 - Pois faz muito mal, minha filha. Assim seu guia não pode lhe aconselhar, você não entende o que ele diz. Vai andando na vida como uma cega. Vai mostrando o caminho pra gente, evitando os tropeços…

 - Tenho não Dª Arminda. Que tropeço?

 - Não são só os tropeços, são os conselhos que ele dá. Outro dia tive um parto difícil, o de Dª Amparo. O menino atravessado. Eu nem saber que fazer, seu Milton já com história de chamar o médico. Quem me valeu? O finado meu marido que me acompanha, não me larga.

Lá em cima – apontava o céu – eles sabem de um tudo, até de medicina. Ele foi-me dizendo no ouvido, eu fui fazendo. Nasceu um bitelo de menino!...

 - Deve ser bom ser parteira… Ajudar os inocentinhos a nascer.

 - Quem vai lhe aconselhar? Logo você que tanto precisa…

 - Preciso, Dª Arminda, porquê? Sabia não…

 - Você, minha filha é uma tola, desculpe que lhe diga. Tolona. Nem sabe aproveitar o que Deus lhe deu.

 - Não diga, Dª Arminda, tou até sem entender. Tudo o que tenho, eu aproveito. Mesmo o sapato que seu Nacib me deu. Vou com ele pró bar. Mas, não gosto não, gosto mais de chinelos. Andar de sapatos, não gosto não…

 - Quem está falando de sapato, boba? Então você não vê como seu Nacib está babado, caidinho, vive num pé e noutro…

Gabriela riu apertando o gato contra o peito:

 - Seu Nacib é moço bom, vou ter medo de quê? Ele não pensa me mandar embora, só quero dar-lhe satisfação…

Dª Arminda picava o dedo com a agulha ante tanta cegueira:

 - Até me piquei… Você é mais tola do que eu pensava. Sou Nacib podendo lhe dar um tudo… Tá rico, seu Nacib! Se pedir seda, ele dá; se pedir moleca para ajudar no trabalho ele contrata logo duas; se pedir dinheiro, é o dinheiro que quiser, ele dá.

 - Preciso não… Pra quê?

Você pensa que vai ser bonita a vida toda? Se não aproveitar agora, depois é tarde. Sou capaz de jurar que você não pede nada a seu Nacib. Não é mesmo?

 - Para ir ao cinema quando a senhora vai. Que mais vou pedir?

Dª Arminda perdia a calma, atirava a meia com o ovo de madeira, o gato assustava-se e punha-lhe uns olhos malignos.

 - Tudo! Tudo, menina, tudo que quiser que ele dá – baixava a voz num sussurro – Se você souber fazer ele pode até casar com você…

 - Casar comigo? Porquê? Precisa não, Dª Arminda, porquê vai casar? Seu Nacib é para casar com moça direita, de família, de representação. Porque havia de casar comigo? Precisa não...


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