quinta-feira, junho 28, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 136


Gabriela levantava-se, não deixava de sorrir, quase a agradecer.

 - Que me diz de minha proposta?

 - Quero não, o senhor me desculpa. Não é por nada, não leve a mal. Tou bem aqui, não me falta nada. Me dê licença seu coronel.

Sobre o muro baixo, no fundo do quintal, aparecia a cabeça de Dª Arminda a chamar por Gabriela:

 - Viu que coincidência? Eu não tava lhe falando? Também quer botar casa para você…

 - Gosto dele não… Nem que tivesse morrendo de fome.

 - É o que lhe digo: é só você querer…

 - Quero nada não…

Estava contente com o que possuía, os vestidos de chita, as chinelas, os brincos, o broche, uma pulseira; dos sapatos não gostava, apertavam-lhe os pés. Contente com o quintal, a cozinha, o seu fogão, o quartinho onde dormia, a alegria quotidiana do bar com aqueles moços bonitos – o professor Josué, seu Tonico, seu Ari – e aqueles homens delicados – seu Filipe, o Doutor, o Capitão – contente com o negrinho Tuísca, seu amigo, com seu gato conquistado ao morro.

Contente com seu Nacib. Era bom dormir com ele, a cabeça descansando em seu peito cabeludo, sentindo nas ancas o peso da perna do homem gordo e grande, um moço bonito. Com o bigode fazia-lhe cócegas no cangote. Gabriela sentiu um arrepio: era tão bom dormir com homem, mas não homem velho por casa e comida, vestido e sapato.

Com homem moço, dormir por dormir, homem forte e bonito como seu Nacib. Essa dona Arminda com tanto espiritismo, estava era ficando maluca. Que ideia sem pés nem cabeça, aquela do casamento com seu Nacib. Que era bom de pensar, ah! era bom… Dar o braço a ele, sair andando na rua. Mesmo que fosse de sapato apertado. Entrar no cinema, sentar junto dele, encostar a cabeça no ombro macio como um travesseiro. Ir a uma festa, dançar com Nacib. Aliança no dedo…

Pensar, para quê? Valia a pena não… Seu Nacib era para casar com moça distinta, toda nos “brinques”, calçando sapato, meia de seda, usando perfume. Moça donzela, sem vício de homem. Gabriela servia para cozinhar, a casa arrumar, a roupa lavar, com homem deitar. Não velho e feio, não por dinheiro. Por gostar de deitar.

Clemente na estrada, Nhôzinho na roça, Zé do Carmo também. Na cidade, Bebinho, moço estudante, casa tão rica! Vinha mansinho, na ponta dos pés, com medo da mãe. Primeiro de todos, ele era menina, foi mesmo seu tio. Ela era menina; de noite seu tio, velho e doente.

Da Luz do fifó

Sob o sol ardente, o dorso nu, as foices presas em varas longas, os trabalhadores colhiam os cocos de cacau. Caíam num baque surdo os frutos amarelos, mulheres e crianças os recolhiam e partiam com tocos de facão.

Amontoavam-se os grãos de cacau mole, brancos de mel, eram metidos nos caçuás, levados para os cochos no lombo dos burros.
(Click na imagem. De preto, nunca me comprometo...)

Site Meter