GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 137
O trabalho começava com o raiar do dia,
terminava com o chegar da noite, um pedaço assado de charque com farinha, uma
jaca madura comidos às pressas na hora do sol a pino.
As vozes das mulheres se elevavam nos dolentes
cantos do trabalho:
Dura vida, amargo fel,
Sou negro trabalhador,
Me diga, seu coronel
Me diga, faça o favor:
Quando é que eu vou colher
As penas do meu amor
O coro dos homens respondia:
Vou colher cacau
No cacaueiro
O grito dos tropeiros apressava os
burros apenas a tropa de cacau mole atingia a estrada: «Eh!, mula danada!
Depressa, Diamante!» Montado em seu cavalo, seguido do capataz, o coronel Melk
Tavares atravessava as roças, fiscalizando o trabalho.
Desmontava, reclamava das mulheres e crianças:
-
Que moleza é essa? Mais depressa, sinhá dona, devagar se cata é piolho.
Mais rápidas as pancadas a partir em
duas a casca dos frutos de cacau colocados sobre a palma da mão, o toco afiado
de facão a ameaçar os dedos cada vez. Tornava-se mais rápido também o ritmo da
canção enchendo as roças, activando os colhedores:
No cacau tem tanto mel,
Ai na roça tanta flor.
Me diga faça o favor:
Quando é que eu vou dormir
Na cama do meu amor?
Por entre as árvores, nos caminhos das
cobras, pisando as folhas secas, crescia a voz dos homens colhendo mais
depressa:
Vou colher cacau
No cacaueiro
O coronel examinava as árvores, o
capataz gritava com os trabalhadores, prosseguia a dura faina diária. Melk
Tavares imobilizava-se de repente, perguntava:
-
Quem colheu aqui ?
O capataz repetia a pergunta,
trabalhadores voltavam-se para ver, o negro Fagundes respondia.
-
Fui eu.
-
Venha cá!
Apontava os cacaueiros , por entre as
folhas cerradas; nos galhos mais altos viam-se cocos esquecidos:
-
Você é protector dos macacos? Pensa que é para eles que eu planto cacau? Saco
de preguiça, só serve mesmo pra arruaça…
-
Inhô, sim. Não arreparei…
-
Não reparou porque não é roça sua, quem perde dinheiro não é você. Preste
atenção de agora em diante.
(Clik na imagem da apanha do cacau)
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