GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 136
Gabriela levantava-se, não deixava de sorrir, quase a
agradecer.
- Que me diz de
minha proposta?
- Quero não, o
senhor me desculpa. Não é por nada, não leve a mal. Tou bem aqui , não me falta nada. Me dê licença seu coronel.
Sobre o muro baixo, no fundo do qui ntal,
aparecia a cabeça de Dª Arminda a chamar por Gabriela:
- Viu que
coincidência? Eu não tava lhe falando? Também quer botar casa para você…
- Gosto dele
não… Nem que tivesse morrendo de fome.
- É o que lhe
digo: é só você querer…
- Quero nada
não…
Estava contente com o que possuía, os vestidos de
chita, as chinelas, os brincos, o broche, uma pulseira; dos sapatos não
gostava, apertavam-lhe os pés. Contente com o qui ntal,
a cozinha, o seu fogão, o quartinho onde dormia, a alegria quotidiana do bar
com aqueles moços bonitos – o professor Josué, seu Tonico, seu Ari – e aqueles
homens delicados – seu Filipe, o Doutor, o Capitão – contente com o negrinho
Tuísca, seu amigo, com seu gato conqui stado
ao morro.
Contente com seu Nacib. Era bom dormir com ele, a
cabeça descansando em seu peito cabeludo, sentindo nas ancas o peso da perna do
homem gordo e grande, um moço bonito. Com o bigode fazia-lhe cócegas no
cangote. Gabriela sentiu um arrepio: era tão bom dormir com homem, mas não
homem velho por casa e comida, vestido e sapato.
Com homem moço, dormir por dormir, homem forte e
bonito como seu Nacib. Essa dona Arminda com tanto espiritismo, estava era
ficando maluca. Que ideia sem pés nem cabeça, aquela do casamento com seu
Nacib. Que era bom de pensar, ah! era bom… Dar o braço a ele, sair andando na
rua. Mesmo que fosse de sapato apertado. Entrar no cinema, sentar junto dele,
encostar a cabeça no ombro macio como um travesseiro. Ir a uma festa, dançar com
Nacib. Aliança no dedo…
Pensar, para quê? Valia a pena não… Seu Nacib era para
casar com moça distinta, toda nos “brinques”, calçando sapato, meia de seda,
usando perfume. Moça donzela, sem vício de homem. Gabriela servia para
cozinhar, a casa arrumar, a roupa lavar, com homem deitar. Não velho e feio,
não por dinheiro. Por gostar de deitar.
Clemente na estrada, Nhôzinho na roça, Zé do Carmo
também. Na cidade, Bebinho, moço estudante, casa tão rica! Vinha mansinho, na
ponta dos pés, com medo da mãe. Primeiro de todos, ele era menina, foi mesmo
seu tio. Ela era menina; de noite seu tio, velho e doente.
Da Luz do fifó
Sob o sol ardente, o dorso nu, as foices presas em
varas longas, os trabalhadores colhiam os cocos de cacau. Caíam num baque surdo
os frutos amarelos, mulheres e crianças os recolhiam e partiam com tocos de
facão.
Amontoavam-se os grãos de cacau mole, brancos de mel,
eram metidos nos caçuás, levados para os cochos no lombo dos burros.
(Click na imagem. De preto, nunca me comprometo...)
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