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O Alexandre e o Mar
O
meu colega e amigo Alexandre, vitima precoce de um cancro desengalgado
que o tomou de gancho e decidiu perder pouco tempo com ele porque, … vá lá
saber-se porquê… não simpatizou ou talvez apenas por ter muito que fazer. Levou-o
dolorosa e rapidamente. Sem paciência, nem tempo e muito menos disposição
porque as dores eram muitas, o Alexandre, nos últimos dias da sua vida, pedia à Bela, sua mulher de sempre, que o metesse no carro e o levasse a ver o mar.
Estendendo
a vista pelo horizonte sem fim das esverdeadas águas do Oceano Atlântico, ele
encontrava como que a continuação da vida que lhe fugia, aqui lo
que desejava e as paredes do seu quarto não lhe permitiam.
Agradeço-te,
Alexandre, não me teres chamado para o pé de ti como fazias quando eu te lia, nos bancos do Jardim do Príncipe Real, um livro do Pitigrilli.
Então, chorava a rir contigo e era muito agradável… Poupaste-me as lágrimas que em nada te teriam ajudado. Ficaram, no entanto, sem eu o saber, para serem derramadas sobre a carta em que a Bela me deu a noticia uns tempos depois.
Agora,
gosto de pensar que ficaste à beira-mar e neste momento, neste preciso momento,
lá continuas, sentado em uma qualquer rocha, num local à tua escolha, olhando o
horizonte sem que nada se possa intrometer entre a tua vista e o infinito.
Tomei a liberdade de escolher estas águas, de vários tons entre eles o
verde, o nosso verde... Repara que está livre, desocupado, nada impede a tua
vista de o percorrer sem limites...
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