CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 134
Quero não… quero não, Dª
Arminda. Pra quê, não é? É melhor não bulir com os mortos, deixar eles em paz. Gosto disso não… –
Coçava a barriga do gato, o ronronar crescia.
- Pois faz muito mal, minha filha. Assim seu
guia não pode lhe aconselhar, você não entende o que ele diz. Vai andando na
vida como uma cega. Vai mostrando o caminho pra gente, evitando os tropeços…
- Tenho não Dª Arminda. Que tropeço?
- Não são só os tropeços, são os conselhos que
ele dá. Outro dia tive um parto difícil, o de Dª Amparo. O menino atravessado.
Eu nem saber que fazer, seu Milton já com história de chamar o médico. Quem me
valeu? O finado meu marido que me acompanha, não me larga.
Lá em cima – apontava o céu
– eles sabem de um tudo, até de medicina. Ele foi-me dizendo no ouvido, eu fui
fazendo. Nasceu um bitelo de menino!...
- Deve ser bom ser parteira… Ajudar os
inocentinhos a nascer.
- Quem vai lhe aconselhar? Logo você que tanto
precisa…
- Preciso, Dª Arminda, porquê? Sabia não…
- Você, minha filha é uma tola, desculpe que
lhe diga. Tolona. Nem sabe aproveitar o que Deus lhe deu.
- Não diga, Dª Arminda, tou até sem entender.
Tudo o que tenho, eu aproveito. Mesmo o sapato que seu Nacib me deu. Vou com
ele pró bar. Mas, não gosto não, gosto mais de chinelos. Andar de sapatos, não
gosto não…
- Quem está falando de sapato, boba? Então
você não vê como seu Nacib está babado, caidinho, vive num pé e noutro…
Gabriela riu apertando o
gato contra o peito:
- Seu Nacib é moço bom, vou ter medo de quê?
Ele não pensa me mandar embora, só quero dar-lhe satisfação…
Dª Arminda picava o dedo com
a agulha ante tanta cegueira:
- Até me piquei… Você é mais tola do que eu
pensava. Sou Nacib podendo lhe dar um tudo… Tá rico, seu Nacib! Se pedir seda,
ele dá; se pedir moleca para ajudar no trabalho ele contrata logo duas; se
pedir dinheiro, é o dinheiro que qui ser,
ele dá.
- Preciso não… Pra quê?
Você pensa que vai ser
bonita a vida toda? Se não aproveitar agora, depois é tarde. Sou capaz de jurar
que você não pede nada a seu Nacib. Não é mesmo?
- Para ir ao cinema quando a senhora vai. Que
mais vou pedir?
Dª Arminda perdia a calma,
atirava a meia com o ovo de madeira, o gato assustava-se e punha-lhe uns olhos
malignos.
- Tudo! Tudo, menina, tudo que qui ser que ele dá – baixava a voz num sussurro – Se
você souber fazer ele pode até casar com você…
- Casar comigo? Porquê? Precisa
não, Dª Arminda, porquê vai casar? Seu Nacib é para casar com moça direita, de
família, de representação. Porque havia de casar comigo? Precisa não...
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