CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 159
Antigamente para governar
bastava mandar, cumprir compromissos com o governo. Hoje não basta. Vosmicê
cumpre com o Governador, é seu amigo, por isso não fica mais respeitado. O povo
não quer saber. Quer governo que atenda suas precisões. Porque seu Mundinho tá
dividindo, tem tanta gente com ele?
- Porquê? Porque ele tá comprando gente,
oferecendo mundos e fundos. E tem sujeitos sem vergonha que não cumprem seus
compromissos.
- Me desculpe, seu coronel, não é isso não. O
que é que ele pode oferecer e vosmicê não pode? Lugar em chapa, influência,
nomeação, prestígio? Vosmicê pode mais. O que ele oferece e está fazendo é
governar de acordo com o tempo.
Governar? Desde quando
ganhou eleição?
- Nem precisa ganhar. Abriu rua na praia,
fundou jornal, ajudou a comprar as marinetes, trouxe agência de banco,
engenheiro prá barra. Que é isso, não é governar?
Vosmicê manda no Intendente,
no Delegado, nas autoridades dos povoados. Mas quem está governando, já faz
tempo, é Mundinho Falcão.
Por isso vim aqui : porque uma terra não pode ter dois governos.
Saí do meu canto para falar com vosmicê. Se isto continuar vai mal suceder. Já
começou: vosmicê mandou tocar fogo na gazeta, quase mataram um homem de vosmicê
em Guaraci. Isso
foi bom noutro tempo, não podia ser de outra forma. Pra hoje é ruim. Por isso
vim lhe falar, bati palmas na porta de sua casa.
- Pra que coisa vir me dizer?
- Que só há um jeito de arrumar a situação. Um
só, outro eu não vejo.
- E qual é, me diga? – A voz do coronel soava
ríspida: agora pareciam quase dois inimigos face a face.
- Sou seu amigo, coronel. Voto em vosmicê há
vinte anos. Nunca lhe pedi nada, só uma vez reclamei, eu tava com razão. Venho
aqui como amigo.
- E eu lhe agradeço. Pode falar.
- Só há um jeito, é entrar num acordo.
- Quem? Eu? Com esse forasteiro? O que é que
pensa de mim coronel? Não fiz acordo quando era moço e corria perigo de vida.
Sou homem de bem, não é quando tou pra morrer que vou me dobrar. Nem fale
nisso.
Mas Tonico intervinha.
Aquela ideia de acordo era-lhe grata. Há alguns dias, Mundinho, andara na
fazenda de Altino. Certamente partia dele a proposta.
- Deixe o coronel falar, pai. Ele veio como
amigo, o senhor deve ouvir. Aceita ou não, isso é outra coisa.
- Porque vosmicê não toma a direcção do caso
da barra? Não chama Mundinho para o seu partido? Não junta tudo, vosmicê na
frente? Ninguém lhe quer mal em Ilhéus, nem o Capitão. Mas se vosmicê continuar
como vai, vosmicê vai perder.
Alguma proposta concreta,
coronel? – perguntou Tonico.
- Proposta, não. Com seu Mundinho nem qui s falar coisas de política. Apenas lhe disse que
eu só via um caminho: um acordo entre os dois.
(Click na imagem. Não é, mas poderia ser a escultural Gabriela preparando-se para se refrescar nas águas do rio mais próximo...)
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