CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 139
A cor de canela? O perfume
de cravo? O modo de rir? Como ia saber? Um calor possuía, queimando na pele,
por dentro, um fogaréu.
- Foi um fogaréu de papel, queimou num
instante. Eu tava querendo ir ver Gabriela, dar uma prosa com ela. Nem deu
jeito, tanto eu queria.
- Tu num viu mais?
A luz do fifó lambia a
sombra, a noite aumentava sem Gabriela. Uivos de cães, piar de corujas, silvos
de cobras. No silêncio a cismar a saudade dos dois. Negro Fagundes pegou o fifó,
foi embora dormir. Na sombra da noite, imensa e sozinha, o mulato Clemente
recolheu Gabriela. Seu rosto sorrindo, seus pés andarilhos, suas coxas morenas,
os seios erguidos, o ventre nocturno, seu perfume de cravo, sua cor de canela.
Tomou-a nos braços, levou-a prà cama feita com varas. Deitou-se com ela,
reclinada em seu peito.
Do Baile Com História
Inglesa
Um dos mais importantes
sucessos daquele ano em Ilhéus foi a inauguração da nova sede da Associação
Comercial. Nova sede que era na realidade a primeira, pois a Associação,
fundada há uns quantos anos, funcionara até então no escritório de Ataulfo
Passos, seu Presidente e representante de firmas do Sul do país.
Nos últimos tempos vinha-se
tornando a Associação poderoso instrumento da vida da cidade, factor de
progresso, promovendo iniciativas, exercendo influência. A nova sede, sobrado
de dois andares, ficava nas vizinhanças do bar Vesúvio, na rua que ligava a
Praça São Sebastião ao porto.
A Nacib foram encomendadas
as bebidas, os doces e salgados para a festa da inauguração. Dessa vez não teve
jeito senão contratar duas cabrochas para ajudar Gabriela, a encomenda era
grande.
As eleições para a
directoria precederam a festa da mudança. Antes era preciso adular comerciantes,
importadores e exportadores, para que consentissem figurar seus nomes na mesa
directora. Agora, disputavam os cargos, dava prestígio, crédito nos bancos,
direito a opinar sobre a administração da cidade.
Duas chapas foram
apresentadas, uma pela gente dos Bastos, outra pelos amigos de Mundinho Falcão.
Actualmente era assim a propósito de cada coisa: de um lado, os Bastos, do
outro Mundinho. Manifesto assinado por exportadores, vários comerciantes, donos
de escritórios de importação, apareceu no Diário de Ilhéus apresentando uma
chapa, encabeçada por Ataulfo Passos, candidato à reeleição, com Mundinho para
Vice-Presidente e o Capitão para orador oficial. Nomes conhecidos a completavam.
Manifesto semelhante
publicou o Jornal do Sul, assinado igualmente por diversos sócios importantes
da Associação patrocinando outra chapa. Para Presidente Ataulfo Passos, em
torno de seu nome não havia dúvidas. Não era político, a ele se devia o
progresso da Associação. Para
Vice-Presidente o sírio Maluf, dono da maior loja de Ilhéus, íntimo de Ramiro
Bastos, em cujas terras, muitos anos antes, começara com uma tenda de
mantimentos. Para orador oficial, o Dr. Maurício Caíres.
Além do nome de Ataulfo
Passos, um outro se repetia nas duas chapas, indicado para o mesmo modesto
cargo de quarto-secretário: o do árabe Nacib A. Nacib.
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