quinta-feira, julho 05, 2012


INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
 À ENTREVISTA Nº 55 SOBRE O TEMA :
 “JESUS FEMINISTA” (2)


Não há testemunhas, só testemunhos

São muitos os exemplos de tradições machistas e patriarcais que aparecem nos livros da Bíblia, tanto na língua e nos costumes, como nas leis e no conteúdo da teologia. Um exemplo curioso é o que lemos no livro do Génesis (24,1-4), quando Abraão diz a um dos seus servos: "Põe a tua mão debaixo da minha coxa e jura por Yahvéh, o Deus do Céu e da Terra…" assim fazia Abraão os juramentos e todos os patriarcas da Bíblia. Mas o "coxa" é um eufemismo: onde os homens que eram empossados punham a mão era nos testículos. Agarrando os testículos de outro o compromisso ficava selado.

Também durante o império romano os homens estavam acostumados a levar a mão direita aos seus órgãos genitais, símbolo de masculinidade, virilidade e coragem, quando faziam uma promessa ou estabeleciam um contrato. Os orgãos produtores de sémen davam credibilidade à palavra empenhada.

Esta prática, entre muitas outras, reflecte a discriminação contra as mulheres: como elas não têm testículos, não podiam testemunhar, não podiam dar testemunho nem herdar em testamento.

 Na terra de Jesus, a mulher não contava para nada nos tribunais. Da cultura judaica à língua portuguesa, todas estas palavras - "testemunho", "testemunha”, testamento" - têm a mesma raiz (testículos) e provêm da mesma cultura patriarcal. Ainda hoje, nos melhores dicionários, não existe a palavra "testemunha" como que insinuando que uma mulher não o pode ser, que a sua palavra não vale nada, que seus juramentos são sempre questionáveis.

Durante séculos e em todos os países, as mulheres não tiveram direito à propriedade ou herança, não assinavam, não decidiam, não elegiam, não votavam. Tudo isto mudou, mas não sem grande esforço, luta, sofrimento e sangue.

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