CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 140
Previa-se uma disputa acirrada, as
forças se equi libravam. Mas Ataulfo,
homem hábil e bem visto declarou que só aceitaria sua candidatura se os
adversários se entendessem, entrassem em acordo para a composição de uma chapa
única reunindo figuras dos dois grupos. Não foi fácil convencê-los.
Ataulfo, porém, era maneiroso, visitou
Mundinho, louvou-lhe o civismo, o constante interesse pela terra e pela
Associação, disse-lhe de como se sentia honrado de tê-lo como Vice-Presidente.
Mas não acreditava o exportador ser uma obrigação manter a Associação Comercial
equi distante das lutas políticas,
exactamente como um terreno neutro onde as forças opostas pudessem colaborar
para o bem de Ilhéus e da pátria?
O que ele propunha era fundir as duas
chapas, criando duas vice-presidências, dividindo as secretarias e os dois
lugares de tesoureiro, os de orador e bibliotecário. A Associação, factor de
progresso, com um grande programa a cumprir para fazer de Ilhéus uma verdadeira
cidade devia pairar sobre as lamentáveis divisões políticas.
Mundinho concordou, mesmo a abrir mão da
sua candidatura a vice-presidente, proposta à sua revelia. No entanto, devia
consultar os amigos; ao contrário do coronel Ramiro, ele não ditava ordens, nada
decidia sem ouvir seus correligionários.
Creio que ficarão de acordo. Já falou
com o coronel?
-
Quis ouvir primeiro o senhor. Vou visitá-lo à tarde.
Com o coronel Ramiro foi mais difícil. O
velho mostrou-se a princípio insensível a qualquer argumentação, encolerizado.:
-
Forasteiro sem raízes na terra. Não tem nem pé de cacau…
-
Eu também não tenho coronel.
-
Com o senhor é outra coisa. Já está aqui
há mais de qui nze anos. É homem de
bem, pai de família, não veio para aqui
virar a cabeça de ninguém, não trouxe homem casado para namorar as filhas da
gente, não quer mandar tudo como se nada prestasse.
-
Coronel, o senhor sabe que não sou político. Não sou nem eleitor. Quero viver
bem com todos. Trato com uns e com outros. Mas é certo que muitas coisas devem
mudar em Ilhéus, já não vivemos naqueles tempos do passado. E quem tem mudado
mais coisas em Ilhéus que o senhor?
O velho, cuja cólera ia em aumento,
pronta para explodir, abandonou-se com as últimas palavras do negociante em
grosso:
-
Sim, quem mudou mais coisas em Ilhéus?... – repetiu. – Isso aqui era um fim do mundo, uma tapera, o senhor deve
se lembrar. Hoje não tem cidade no Estado igual a Ihéus. Porque não esperam ao
menos eu morrer? Estou a um passo da cova. Porquê essa ingratidão no fim da
minha vida? Que mal eu fiz, em que ofendi esse senhor Mundinho, que quase nem
conheço?
Ataulfo Passos não sabia como responder.
Agora a voz do coronel era trémula, voz de homem velho, terminado.
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