GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 163
Retirou o rebenque, levantando-o; a
ponta roçou de leve o rosto de Rómulo. – Depois de amanhã, é o prazo que lhe
dou.
Voltou-lhe as costas, voltado agora para
o bar como a indagar do motivo da pequena aglomeração do lado de fora. Marchou
para lá, os curiosos foram-se sentando, estabelecendo conversas rápidas,
olhando de soslaio. Melk chegou batendo nas costas de Nacib:
-
Como vai essa vida, me serve um conhaque.
Viu João Fulgêncio, sentou-se a seu
lado:
-
Boa tarde, seu João. Me disseram que o senhor andou vendendo uns livros ruins
pra minha menina. Vou lhe pedir um favor: não venda mais nenhum. Livro só de
Colégio, os outros não prestam para nada, só servem para desencaminhar.
Muito calmo, João Fulgêncio respondeu:
-
Tenho livros para vender. Se o freguês quer comprar, não deixo de vender. Livro
ruim, o que é que o senhor entende por isso? Sua filha só comprou livros bons,
dos melhores autores. Aproveito para lhe dizer que é moça inteligente, muito
capaz. É preciso compreendê-la, não deve ser tratada como uma qualquer.
-
A filha é minha, deixe comigo o tratamento. Para certas doenças conheço os
remédios. Quanto aos livros, bons ou ruins, ela não comprará mais.
-
Isso é com ela.
-
Comigo também.
João Fulgêncio levantava os ombros como
se lavasse as mãos das consequências. Bico Fino chegava com o conhaque, Melk
bebia-o de um trago, ia levantar-se, João Fulgêncio segurava-lhe o braço:
-
Ouça, coronel Melk. Fale com sua filha com calma, ela talvez o ouça. Se usar de
violência poderá vir a arrepender-se depois.
Melk parecia fazer um esforço para
conter-se:
-
Se não conhecesse o senhor, não tivesse sido amigo de seu pai, eu nem lhe
escutava. Deixe a menina comigo. Não costumo me arrepender. De toda a forma lhe
agradeço a intenção.
Batendo o rebenque na bota, atravessou a
praça. Josué o olhava de uma das mesas, veio sentar-se na cadeira que ele
deixara, ao lado de João Fulgêncio.
-
Que irá fazer?
-
Possivelmente uma burrice – Pousou seus olhos bondosos no professor – O que não
admira, você também não anda fazendo tantas? – É uma moça de carácter,
diferente. E a tratam como se fosse uma tola…
Melk transpunha o portão da casa de
estilo moderno. No bar as conversas retornavam a Altino Brandão, às agitações
políticas.
O engenheiro sumira do banco da avenida.
Só mesmo João Fulgêncio, Josué e Nacib, esse parado na calçada na calçada,
continuavam atentos aos passos do fazendeiro.
(Click na imagem dos coronéis. Eles eram, na sociedade do nordeste brasileiro de então, as personagens que detinham a riqueza da terra e, com ela, o poder e a autoridade despótica e prepotente)
(Click na imagem dos coronéis. Eles eram, na sociedade do nordeste brasileiro de então, as personagens que detinham a riqueza da terra e, com ela, o poder e a autoridade despótica e prepotente)
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