CRAVO
E
CANELA
CANELA
Episódio Nº 162
Não só o Diabo, o Inferno inteiro ele o
conduzia dentro de si. De nada adiantara o trato feito com Gabriela. Ela vinha
e ficava por detrás da caixa registadora. Frágil trincheira, curta distância
para o desejo dos homens.
Acotovelavam-se agora a beber de pé,
junto ao balcão, quase um comício em torno dela, uma pouca vergonha. O juiz
descarara tanto que a ele próprio, Nacib, já dissera:
-
Vá se preparando, meu caro, que vou lhe roubar Gabriela. Vá tratando de procurar
outra cozinheira.
-
Ela deu esperanças, doutor?
-
Mas dará… É questão de tempo e jeito.
Manuel das Onças, que antes não saía das
roças, parecia esquecido das suas fazendas em plena época de colheita. Até
pedaço de terra mandara oferecer a Gabriela. Quem tinha razão era a solteirona.
O Diabo se soltara em ilhéus, virava a cabeça dos homens. Terminaria virando a
de Gabriela também. Ainda há dois dias, Dª. Arminda lhe dissera:
-
Uma coincidência: sonhei que Gabriela tinha ido embora e no mesmo dia o coronel
Manuel mandou dizer que se ela qui sesse
botava no papel uma roça, em nome dela.
Cabeça de mulher é fraca, bastava olhar
a praça: lá estava Malvina sentada num banco na Avenida, a conversar com o
engenheiro. João Fulgêncio não dizia que era a mulher mais inteligente de
Ilhéus, com carácter e tudo. E não perdia a cabeça a namorar na vista de todos
um homem casado?
Nacib andara até à extremidade do largo
passeio do bar. Perdido em seus pensamentos, assustou-se quando viu o coronel
Melk Tavares sair de casa, marchar para a praia.
-
Espiem! - exclamou.
Alguns ouviram, voltaram-se para ver.
-
Vai andando para eles…
-
Vai haver alteração…
A moça também vira o pai a aproximar-se,
pusera-se de pé. Devia ter chegado da roça naquela hora, nem descalçara as
botas. No bar abandonavam as mesas de dentro para espiar.
O engenheiro empalidecera quando Malvina
lhe avisara:
-
Meu pai está vindo para cá.
-
Que vamos fazer? – A voz o traía.
Melk Tavares, a cara fechada, o rebenque
na mão, os olhos na filha, parou junto deles. Como se não visse o engenheiro,
nem o olhou. Disse a Malvina, a voz como uma chibatada:
-
Já pra casa! O rebenque estalou seco contra a bota.
Ficou parado olhando a filha andar num passo
lento. O engenheiro não se movera, um peso nas pernas, o suor na testa e nas
mãos. Quando Malvina entrou no portão e desapareceu, Melk levantou o rebenque,
encostou a ponta de couro no peito de Rómulo:
-
Soube que o senhor terminou os seus estudos da barra. Que telegrafou pedindo
para continuar, ficar dirigindo os trabalhos. Se eu fosse o senhor, não faria
isso, não. Mandava um telegrama pedindo um substituto e não esperava que ele
chegasse. Tem um navio depois de amanhã.
( Click na imagem do coronel Melk Tavares, pai de Malvina, que parece ter posto fim ao namoro da filha com o engenheiro com velada ameaça de morte)
<< Home