FÉRIAS
“Eu ainda sou do tempo...” em que as férias
duravam um mês… e eram gozadas na praia da Nazaré que os jovens turistas
franceses “deram a conhecer” ao país escandalizando as nazarenas beijando-se despudoradamente na via pública rodeados pelas mulheres das sete saias que faziam chacota entusiasmadas por aquele descaramento num país de pessoas envergonhadas em que
coisas daquelas só se faziam às escondidas.
Para trás, na década de quarenta, já
tinham ficado as férias nas praias de Santo Amaro de Oeiras e Carcavelos, na
linha de Estoril, com a vendedora das “bolas de berlim” e o homem que atraía a
meninada a apregoar a “bolacha americana”.
Estávamos ainda nos recatados tempos em
que os fatos de banho das senhoras eram de alto a baixo com uma pequena saia e
os dos homens tinham duas peças porque isso de mostrar o peito ficava só para o
Tarzan.
Mas avancemos vinte anos e regressemos à
Nazaré onde era preciso, pelo menos aconselhável, visitar uns meses antes para
escolher e negociar a casa às gentes do mar que nos meses de Verão as deixavam
livres para obterem um rendimento complementar à faina da pesca quando o mar deixava.
Depois, alugava-se na praia uma barraca,
também ao mês, na expectativa de que os vizinhos fossem pessoas simpáticas para
as senhoras poderem dar à língua sentadas na areia.
Foi na esplanada principal da Nazaré que
assisti, no ano de 1966, ao memorável jogo do Mundial de Futebol com a Coreia
do Norte em que começamos a perder por 3 – 0 o que era verdadeiramente escandaloso…
Salvou-nos o Pantera Negra, o grande Eusébio, que recuperou, ainda na 1ª parte,
com 2 golos e mais dois na 2ª. O José Augusto, finalmente, arrumou a questão
com um 5º golo. Foi algo de memorável com muitas lágrimas de alegria a escorrerem
pelos rostos dos veraneantes que sentados à mesa a beberem a sua cerveja não
tinham ganho para o susto.
Foram precisos mais 10 anos para que o
25 de Abril abrisse as portas às férias dos portugueses no Algarve em
verdadeiras colunas de automóveis e atrelados em direcção aos parques de campismo
algarvios a abarrotarem de gente com as tendas às costas à descoberta das suas
belas praias, dos seus recantos escondidos, do sol incomparável e das águas
convidativas.
Foi um período glorioso em que o Algarve
tinha mais encanto, sabia a aventura, a férias, a liberdade, respirava-se uma
vida nova. Era o tempo das bichas para tomar banho, para lavar a loiça, para
comprar o pão…tínhamos todos pouco dinheiro mas uma vontade muito grande de
viver.
Ontem regressei de mais umas férias no
Algarve reduzidas apenas a uma semana num hotel. Um Algarve que já não é o
mesmo, está sofisticado, cheio de hotéis e piscinas, tapado de prédios e de
moradias já não tem recantos. A convivência espontânea, informal entre pessoas
deu lugar a grupos de jovens que se encontram em discotecas para beberem sem
conta nem medida.
Os cantores da moda aproveitam a
concentração das pessoas para fazerem os seus espectáculos e as pessoas acorrem
aos magotes agitando os braços ao som das músicas.
Foram umas férias pequeninas e, acima de
tudo, sem a alegria de outros tempos …
(Click na Imagem da bela praia do Vau, Alvor-Algarve onde, nos últimos anos, tenho vindo a passar férias.)
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