sexta-feira, julho 27, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 160


 - E ele, que disse? – Tonico, atento e curioso, queria saber.

 - Não disse nada, também não pedi resposta. Mas se o coronel Ramiro quiser, como é que vai ficar se não aceitar? Se o coronel estender a mão, como é que ele pode recusar?

 - Quem sabe se o senhor tem razão… – Tonico puxava a cadeira pesada, aproximava-se da Altino.

A voz do coronel Ramiro Bastos, alterada, interrompia o diálogo:

 - Coronel Altino Brandão se foi só isso que lhe trouxe aqui, a sua visita está terminada…

 - Meu pai! Que é isso?

 - E você, cale a boca. Se quiser a minha bênção nem pense em acordo. Coronel, me desculpe, não quero lhe ofender, sempre me dei bem com o senhor. Nessa casa o senhor manda como se fosse na sua. Vamos falar de outra coisa, se quiser. De acordo, não. Escute o que vou lhe dizer: posso até ficar sozinho, podem até meus filhos me abandonar, se unirem a esse forasteiro. Posso ficar sem um amigo, ou só com um, porque compadre Amâncio, esse não me abandona, tenho certeza.

Posso ficar sozinho, não faço acordo. Antes que eu morra ninguém vai tomar conta de Ilhéus. O que serviu ontem pode servir hoje. Nem que eu tenha de morrer de arma na mão. Nem que tenha outra vez, Deus me perdoe, de mandar matar.

Daqui a um ano vai ter eleição. Eu vou ganhar, coronel, mesmo que esteja todo mundo contra, mesmo que Ilhéus vire outra vez coito de bandidos, terra de cangaço – Elevava a voz trémula, punha-se de pé… – Eu vou ganhar!

Também Altino se levantava e tomava o chapéu.

 - Eu vim de boa paz, vosmiçê não quer me ouvir. Não quero sair de sua casa inimigo de vosmicê, lhe tenho muita consideração. Mas saio sem compromisso, não sou seu devedor, tou livre de votar em quem quiser. Adeus coronel Ramiro Bastos.

O velho dobrou a cabeça, os seus olhos pareciam vidrados. Tonico acompanhava o coronel até à porta:

 - Meu pai é cabeçudo, obstinado. Mas talvez eu possa…

Altino apertava-lhe a mão, cortava-lhe a frase:

 - Assim, ele vai terminar sozinho. Com dois ou três amigos mais dedicados – Olhava o moço elegante, um «vira-bosta».

Penso que Mundinho tem razão, Ilhéus precisa de nova gente para governar. Fico com ele. Mas vosmicê, sua obrigação é ficar junto de seu pai, lhe obedecer. Outro qualquer tem direito de negociar, lhe pedir acordo, até misericórdia. Vosmicê não, só tem uma coisa a fazer. Ficar junto dele, nem que seja para morrer. Fora disso vosmicê não tem mais nada a fazer.

Cumprimentou Jerusa, loira e curiosa na janela da outra sala, saíu andando.


Do Demónio solto nas ruas

 - T’esconjuro!... Até parece que o demónio anda solto em Ilhéus. Onde já se viu moça solteira namorar homem casado? – imprecava a áspera Doroteia no átrio da Igreja em meio às solteironas.

 - O professor, coitadinho dele! Só falta perder o juízo. Anda tão sorumbático que dá pena… – lastimou Quinquina.


(Click na imagem para observar mais em pormenor a máquina fotográfica...) 

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