CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 169
Assim o fizera e combinara
com Mundinho solicitar do Ministério a direcção do serviço de rectificação e
dragagem da barra. O exportador lhe prometera quantia ainda maior para quando o
primeiro navio estrangeiro entrasse no porto. E se empenhar por uma promoção.
Que mais podia desejar? No
entanto fora meter-se com moça solteira, a bolinar nos cinemas, a fazer-lhe
promessas impossíveis. Resultado tivera de telefonar pedindo substituto, fora
desagradável a conversa com Mundinho.
Garantira que ao chegar ao
Rio, não deixaria o Ministro em paz enquanto as dragas e os rebocadores não
fossem enviados. Era tudo quanto podia fazer. O que não podia era ficar em
Ilhéus para apanhar de chicote na rua ou levar um tiro na calada da noite.
Trancou-se depois no quarto,
dali só sairia para o navio. E a louca a marcar encontro nos rochedos, ele nem
acreditava que Melk houvesse em seguida voltado para a roça, onde a colheita
findava. Uma louca, ele tinha a mania das doidas, se metia com elas…
Malvina esperava no alto dos
penedos. Em baixo, as ondas chamavam. Ele não viria, de tarde quase morrera de
medo, ela agora compreendia. Ficou a espuma a voar, as águas chamavam, por um
instante pensou em se atirar. Acabaria com tudo. Mas ela queria viver, queria
ir-se de Ilhéus, trabalhar, ser alguém, um mundo a conqui star.
Que adiantava morrer? Nas
ondas atirou os planos feitos, a sedução de Rómulo, suas palavras e o bilhete
que ele lhe escrevera dias depois de desembarcar. Dava-se conta, Malvina, do
erro cometido: para sair dali só vira um caminho, apoiada no braço de um homem,
marido ou amante.
Porquê? Não era ainda Ilhéus
agindo sobre ela, levando-a a não confiar em si própria? Porque partir pela mão
de alguém, presa a um compromisso, a dívida tão grande?
Porque não partir com seus
pés, sòzinha, um mundo a conqui star?
Assim sairia. Não pela porta da morte, queria viver e ardentemente, livre como
o mar sem limites.
Segurou os sapatos, desceu
dos rochedos, começou a esboçar um plano. Sentia-se leve. Melhor do que tudo
fora ele não ter vindo; como poderia viver com um homem covarde?
De amor eterno, ou de Josué
transpondo Muralhas.
Naquela série de sonetos,
dedicados “ à indiferente, à ingrata, à soberba, à orgulhosa M…” impressos em
grifo no alto da lida coluna de aniversários, baptizados, falecimentos e
matrimónios do Diário de Ilhéus, Josué afirmara em esforçadas rimas,
repetidamente, a eternidade do seu amor desprezado.
Múltiplas qualidades, cada
qual mais magnífica, caracterizavam a paixão do professor, mas, de todas elas,
era o seu carácter eterno a mais trombeteada, em corpo 10 nas páginas do
jornal. Suada eternidade, o professor a contar alexandrinos e decassílabos, a
procurar rimas.
Crescera ainda o amor,
passara a eterno e imortal, em apaixonada redundância, quando, finalmente, na
excitação do assassinato de Sinhàzina e Osmundo, quebrara-se o orgulho de
Malvina e o namora começara.
(Click na imagem. O desespero inicial de "Malvina" que rapidamente encontra em sim as forças necessárias para seguir na direcção certa)
(Click na imagem. O desespero inicial de "Malvina" que rapidamente encontra em sim as forças necessárias para seguir na direcção certa)
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