sábado, setembro 29, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 205

Homem de ideias e de iniciativas, Aristóteles atirou-se à tarefa de fazer prosperar Itabuna. Limpou-a de jagunços, calçou as ruas centrais. Não se preocupava muito com praças e jardins, não se dedicava a embelezar a cidade. Em compensação, dera-lhe boa iluminação, óptimo serviço de esgotos, abrira estradas a ligá-la com povoados, trouxera técnicos para a poda do cacau, fundara uma cooperativa de produtores, dera facilidades para incrementar o comércio, olhava pelos distritos, fizera da jovem urbe o ponto de convergência de todo um vasto interior até ao sertão.

Mundinho foi encontrá-lo na Intendência, a estudar os planos de uma nova ponte sobre o rio, ligando as duas partes da cidade. Parecia esperar o exportador, mandou trazer café.

 - Vim aqui, coronel, lhe dar meus parabéns por sua cidade. Seu trabalho é extraordinário. E conversar política. Como não gosto de ser indiscreto, caso a conversa não lhe interessa, diga-me logo. Os parabéns já lhe dei.

 - E porque não, seu Mundinho? Política é a minha cachaça. Veja o senhor: senão fosse a política, eu seria homem rico. Só tenho feito gastar com política. Não me queixo, gosto disso. É minha fraqueza. Não tenho filhos, não jogo, não bebo… Mulheres, bem, uma vez ou outra mijo fora do caco… – Ria seu riso simpático. – Só que política para mim quer dizer administrar. P'ra outros é negócio e prestígio. P'ra mim não, pode crer.

 - Acredito perfeitamente. Itabuna é a melhor prova.

 - O que me dá satisfação é ver Itabuna crescer. Vamos passar Ilhéus, seu Mundinho, um dias desses. Não digo a cidade, Ilhéus é porto. Mas o município. Lá é bom pra viver, aqui pra trabalhar.

 - Todo o mundo falou-me bem do senhor. Todos o respeitam e estimam. Oposição não existe.

 - Não é tanto assim. Tem uma meia dúzia… Se o senhor procurar bem, encontra uns sujeitos que não gostam de mim. Só que não dizem o porquê. Andam aí atrás do senhor. Não lhe procuraram ainda?

 - Procuraram, sim. Sabe o que lhes disse? Quem quiser votar em mim, que vote, mas não vou servir de ponto de apoio para o combate ao coronel Aristóteles. Itabuna está bem servida.

 - Eu soube… Soube logo… E lhe agradeço. – Riu novamente para Mundinho, sua cara larga, acaboclada, irradiava cordialidade. – Por meu lado, tenho acompanhado a actuação do senhor. E aplaudido. Quando terminam as obras da barra?

 - Uns meses ainda e teremos exportação directa. Os trabalhos estão andando o mais depressa possível. Mas há muito que fazer.

 - Essa história da barra tem dado que falar. É capaz de eleger o senhor. Andei estudando o assunto e vou-lhe dizer uma coisa. A verdadeira solução é o porto no Malhado, não é abrir a barra. Pode dragar quanto quiser, a areia volta de novo. O que vai resolver é a construção de um novo porto em Ilhéus, no Malhado.

Se esperava que Mundinho discutisse, enganou-se.

 - Sei disso perfeitamente. A solução definitiva é o porto do Malhado. Mas o senhor acha que o governo está disposto a construí-lo?
(Click na imagem e retirem a jovem do chão da calçada... por favor!)

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