CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 205
Homem de ideias e de
iniciativas, Aristóteles atirou-se à tarefa de fazer prosperar Itabuna.
Limpou-a de jagunços, calçou as ruas centrais. Não se preocupava muito com
praças e jardins, não se dedicava a embelezar a cidade. Em compensação,
dera-lhe boa iluminação, óptimo serviço de esgotos, abrira estradas a ligá-la
com povoados, trouxera técnicos para a poda do cacau, fundara uma cooperativa
de produtores, dera facilidades para incrementar o comércio, olhava pelos distritos,
fizera da jovem urbe o ponto de convergência de todo um vasto interior até ao
sertão.
Mundinho foi encontrá-lo
na Intendência, a estudar os planos de uma nova ponte sobre o rio, ligando as
duas partes da cidade. Parecia esperar o exportador, mandou trazer café.
- Vim aqui ,
coronel, lhe dar meus parabéns por sua cidade. Seu trabalho é extraordinário. E
conversar política. Como não gosto de ser indiscreto, caso a conversa não lhe
interessa, diga-me logo. Os parabéns já lhe dei.
- E porque não, seu Mundinho? Política é a
minha cachaça. Veja o senhor: senão fosse a política, eu seria homem rico. Só
tenho feito gastar com política. Não me queixo, gosto disso. É minha fraqueza.
Não tenho filhos, não jogo, não bebo… Mulheres, bem, uma vez ou outra mijo fora
do caco… – Ria seu riso simpático. – Só que política para mim quer dizer
administrar. P'ra outros é negócio e prestígio. P'ra mim não, pode crer.
- Acredito perfeitamente. Itabuna é a melhor
prova.
- O que me dá satisfação é ver Itabuna
crescer. Vamos passar Ilhéus, seu Mundinho, um dias desses. Não digo a cidade,
Ilhéus é porto. Mas o município. Lá é bom pra viver, aqui
pra trabalhar.
- Todo o mundo falou-me bem do senhor. Todos o
respeitam e estimam. Oposição não existe.
- Não é tanto assim. Tem uma meia dúzia… Se o
senhor procurar bem, encontra uns sujeitos que não gostam de mim. Só que não
dizem o porquê. Andam aí atrás do senhor. Não lhe procuraram ainda?
- Procuraram, sim. Sabe o que lhes disse? Quem
qui ser votar em mim, que vote, mas não
vou servir de ponto de apoio para o combate ao coronel Aristóteles. Itabuna
está bem servida.
- Eu soube… Soube logo… E lhe agradeço. – Riu
novamente para Mundinho, sua cara larga, acaboclada, irradiava cordialidade. –
Por meu lado, tenho acompanhado a actuação do senhor. E aplaudido. Quando
terminam as obras da barra?
- Uns meses ainda e teremos exportação
directa. Os trabalhos estão andando o mais depressa possível. Mas há muito que
fazer.
- Essa história da barra tem dado que falar. É
capaz de eleger o senhor. Andei estudando o assunto e vou-lhe dizer uma coisa.
A verdadeira solução é o porto no Malhado, não é abrir a barra. Pode dragar
quanto qui ser, a areia volta de
novo. O que vai resolver é a construção de um novo porto em Ilhéus, no Malhado.
Se esperava que Mundinho
discutisse, enganou-se.
- Sei disso perfeitamente. A solução
definitiva é o porto do Malhado. Mas o senhor acha que o governo está disposto
a construí-lo?
(Click na imagem e retirem a jovem do chão da calçada... por favor!)
<< Home