CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 203
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E é homem leal – Ramiro aprendera nos tempos a apreciar o valor da lealdade.
- Ainda assim pode perder.
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É preciso ganhar. E ganhar aqui em Ilhéus. Não quero
recorrer ao Governador para degolar ninguém. Quero ganhar! – Chegava a parecer
uma criança obstinada a reclamar um brinquedo. – Sou capaz de largar tudo se
tiver de me manter à custa de prestígio alheio.
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Compadre tem razão – falou Amâncio – Mas para isso é preciso assustar um bocado
de gente. Soltar uns cabras na cidade.
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Tudo o que for preciso, menos perder nas urnas.
Estudavam os nomes para o Conselho
Municipal. Tradicionalmente, a oposição elegia um conselheiro. Tradicionalmente
também era sempre o velho Honorato, oposicionista só de nome, devendo obséqui os a Ramiro. Chegava a ser mais governista que
todos os seus colegas.
Desta vez nem puseram o nome dele na
chapa.
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O Doutor se elege. É quase certo.
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Deixa ele se eleger. É homem de valor. E sozinho, que oposição pode fazer.
O coronel Ramiro tinha um fraco pelo
Doutor. Admirava seu saber, o conhecimento que tinha da história de Ilhéus,
gostava de ouvi-lo falar do passado, contar as trapalhadas dos Ávilas. Daria
lustre ao Conselho, terminaria votando com os outros como o Doutor Honorato.
Mesmo naquela hora, de cálculos
eleitorais nem sempre optimistas, quando a sombra da derrota se desenhava na
sala, Ramiro era o grão-senhor, magnífico, a deixar generoso uma cadeira para a
oposição e a designar o mais nobre dos adversários para ocupá-la.
Quanto à vitória, Amâncio prometia.
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Deixe estar, compadre Ramiro, vou me ocupar. Enquanto Deus me der vida, ninguém
vai-se rir de meu compadre nas ruas de Ilhéus. Ter o gosto de ganhar eleição
contra ele, isso não. Deixe ficar com a gente, comigo e com Melk.
Enquanto isso, naquele tórrido Verão, os
amigos de Mundinho movimentavam-se. Ribeirinho não esquentava lugar, ia de
distrito em distrito, propunha-se viajar toda a região. O Capitão também fora a
Itabuna, a Pirangi, a Água Preta. Ao voltar aconselhou Mundinho a ir sem
tardança a Itabuna.
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Em Itabuna nem cego vota na gente.
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Porquê?
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Você já viu falar em governo com popularidade? Pois existe: o do coronel
Aristóteles em Itabuna. O
homem tem todo o mundo na mão, desde os fazendeiros até aos mendigos.
Click na imagem: alguém viu por aí estes olhos?)
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