CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 201
O facto de Mundinho Falcão
candidatar-se a deputado federal era animador. O grande perigo seria ele
disputar a Intendência. Fizera-se popular, ganhara prestígio. Grande parte dos
eleitores citadinos, senão o maior número, votaria nele, seria eleição quase
certa.
- Fazer eleição aqui
a bico de pena já tá meio difícil – constatava Melk Tavares.
Para deputado federal,
porém, Mundinho dependeria de votos de toda a região, do 7º distrito eleitoral,
a incluir não apenas Ilhéus, mas também Belmonte, Itabuna, Canavieiras e Una,
municípios cacaueiros, elegendo dois deputados. Um deles, com os votos de
Itabuna, Ilhéus e Una.
Una contava pouco,
ninharia de votos. Mas Itabuna pesava hoje quase tanto como Ilhéus, e lá mandava
sem oposição, o coronel Aristóteles Pires, a dever sua carreira política a
Ramiro Bastos. Não fora Ramiro quem o fizera Subdelegado do antigo distrito de
Tabocas?
Aristóteles vota em quem
eu mandar.
Além disso, os deputados
federais não dependiam da política municipal, e só para os candidatos pelas
capitais não era a eleição pura formalidade. Nasciam tais deputados dos
compromissos do governador e do poder federal.
O actual deputado por
Ilhéus e Itabuna (o outro era eleito com os votos de Belmonte e Canavieiras)
aparecera na zona apenas uma vez, após as últimas eleições.
Tratava-se de um médico
residente no Rio, protegido de um senador federal. Para tal cargo, Mundinho não
tinha qualquer possibilidade. Mesmo que ganhasse em Ilhéus, perderia em Itabuna
e em Una, e no interior do município as eleições seria fraudadas.
- Esse está no mato sem cachorro… – concluía
Amâncio.
- Mas é preciso que ele perca mesmo. Que seja
derrotado! A começar por Ilhéus. Quero derrota feia – exigia Ramiro.
O Capitão seria candidato
a Intendente, Dr. Ezequi el Prado a
deputado estadual. Da candidatura do advogado, Ramiro debochava. Alfredo seria
certamente eleito. Ezequi el servia
para júri e caxixe, para fazer discurso em dia de festa.
Tirando isso, era muito
desmoralizado, homem de cachaçadas, de escândalos com mulheres. Além de
precisar, como Mundinho, dos votos de todo o distrito eleitoral.
Não oferece perigo –
confirmava Amâncio.
- É bom pra ele aprender a não virar a casaca…
O Capitão dependia apenas
dos votos do município de Ilhéus. Adversário perigoso, o próprio Ramiro o
reconhecia. Era preciso derrotá-lo no interior do município, na cidade era
capaz de ganhar. Cazuzinha, seu pai, derrubado pelos Bastos, deixara uma
legenda na vida da cidade: de homem de bem, administrador exemplar.
A primeira rua calçada o
fora por ele, ainda hoje se chamava dos Paralelepípedos.
A primeira praça, o
primeiro jardim. Leal até ao fanatismo, mantivera-se fiel aos Badarós, gastara
quanto possuía a combater os Bastos, numa batalha sem perspectiva.
(Click na imagem onde o verde predomina em homenagem ao meu Sporting que, finalmente, ontem à noite ganhou ao Gil Vicente por 2-1)
<< Home