GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 200
Ei-los sem máscara: não passariam jamais de
chefes de jagunços. Mas enganaram-se ao pensar que amedrontariam os competentes
engenheiros e técnicos mandados pelo Governo para rasgar o canal da barra,
devido aos esforços desse benemérito incentivador do progresso, Raimundo Mendes
Falcão, e apesar da grita impatriótica dos cangaceiros apegados ao poder.
Não, não amedrontavam ninguém. Aos
partidários do desenvolvimento da região cacaueira repugnavam tais métodos de
luta. Mas, se a eles fossem arrastados pelos imundos adversários, saberiam
reagir à altura.
Nenhum outro engenheiro seria
escorraçado de Ilhéus. Desta vez falhariam os pretextos. O número do Diário de
Ilhéus estava sensacional.
Das fazendas de Altino Brandão e de
Ribeirinho desceram jagunços. Os engenheiros durante algum tempo andaram nas
ruas acompanhados de estranhos guarda-costas.
O mal afamado Loirinho, com um olho
amassado era visto igualmente comandando jagunços de Amâncio Leal e Melk
Tavares, inclusive um negro de nome Fagundes. Mas, descontando-se umas arruaças
em casa de mulheres, em becos escuros, nada de mais grave aconteceu.
Os trabalhos prosseguiam, uma admiração
geral a cercar as gentes dos rebocadores e das dragas.
Fazendeiros, em número cada vez maior,
aderiam a Mundinho. Cumpria-se a previsão do coronel Altino: Ramiro Bastos
começava a ficar sozinho. Seus filhos e seus amigos davam-se conta da situação.
Concentravam agora as suas esperanças na
solidariedade do Governo, no não reconhecimento da vitória da oposição se esta
acontecesse. Disso falavam, em casa do coronel Ramiro, seus dois filhos (Dr.
Alfredo encontrava-se em Ilhéus) e seus dois mais devotados amigos: Amâncio e
Melk. Deviam preparar as eleições à moda antiga: dominando bancas e juntas
eleitorais, livros de acta.
Eleições a bico de pena. Com o que
garantiriam o interior. Infelizmente em Ilhéus e em Itabuna, cidades
importantes, era difícil empregar tais métodos sem correr certos riscos.
Alfredo contava ter o Governador lhe oferecido
garantias absolutas: jamais Mundinho e sua gente obteriam o reconhecimento
mesmo que vencessem cabalmente as eleições. Não iria entregar a zona do cacau,
a mais rica e próspera do Estado, nas mãos de oposicionistas, de ambiciosos
como Mundinho. Ideia absurda.
O velho coronel ouvia, o queixo apoiado
no castão de ouro da bengala. Seus olhos, de onde a luz desaparecia,
apertavam-se. Vitória assim não era vitória, era pior que derrota. Ele nunca
precisara disso. Sempre ganhara na boca das urnas, os votos eram dele.
Guilhotinar adversários na hora do
reconhecimento dos poderes, eis uma coisa que jamais necessitara de fazer.
Agora, Alfredo e Tonico, Amâncio e Melk falavam sobre isso tranqui lamente, sem dar-se conta da pesada humilhação a
que o sujeitavam.
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Não vamos precisar disso. Vamos ganhar é no voto!
(click na imagem: "camuflada com a natureza")
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