CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 217
Nacib passava, parava nas mesas. Na
Praça Rui Barbosa, quebrou caminho, cortou para a Praça Seabra. Havia gente na
rua, alguns a olhavam curiosos, dois outros a cumprimentaram. Conhecidos de
Nacib, fregueses do bar. Mas estavam tão empolgados com o acontecimento da
tarde que não ligaram.
Atingiu os trilhos da estrada, chegava
às casas pobres das ruas do canto. Mulheres damas, de última classe, passavam
por ela e a estranhavam. Uma a puxou pelo braço:
-
Tu é nova por aqui , nunca te vi…
Donde tu veio?
-
Do sertão – respondeu automaticamente. – Onde é que fica a Rua do Sapo?
-
Mais adiante. Tu vai para lá? Pra casa da Mé?
-
Não. Pró Bate-Fundo.
-
Tu vai lá? Tu tem coragem. Lá eu não vou. Hoje ainda menos, tá um fuzué dos
diabos. Tu quebra à direita e chega lá.
-Quebrou à direita na esqui na.
Um negro a segurou:
-
Onde vai, dengosa? – Olhou-a no rosto, achou-a bonita, beliscou-lhe a face com
os dedos fortes. – Onde tu mora?
-
Longe daqui .
-
Não faz mal. Vamos, dengosa, fazer um neném.
-
Agora não posso. Tou apressada.
-
Tá com medo que te passe o calote? Olha aqui .
Metia a mão no bolso, tirava algumas notas miúdas.
-
Tou com medo não. Tou com pressa.
-
Com mais pressa tou eu. Saí mesmo para isso.
-
E eu para outra coisa. Me deixa ir embora. Volto mais logo..
-
Tu volta mesmo?
-
Juro que volto.
-
Vou te esperar.
- Aqui
mesmo, pode esperar.
Saiu apressando o passo. Já perto do
Bate-Fundo – donde vinha barulhenta música de pandeiros e violão – um bêbado
atracou-se a ela, queria abraçá-la. Empurrou-lhe o cotovelo, ele perdeu o equi líbrio, agarrou-se a um poste. Da porta do Bate-Fundo,
na rua pouco iluminada saía um rumo de conversas, de gargalhadas e gritos. Ela
entrou. Uma voz chamou, ao vê-la:
-
Pra cá, morena, beber uma pinga.
Um velho tocava violão, um rapazola
batia pandeiro. Mulheres envelhecidas, demasiadamente pintadas, algumas
bêbadas. Outras eram cabrochas de extrema juventude. Uma delas, de cabelos
escorridos e face magra, não devia ainda ter qui nze
anos completos.
Um homem insistia para que Gabriela
viesse sentar-se a seu lado. As mulheres, as velhas e as mocinhas, olhavam-na
com desconfiança. Donde vinha aquela concorrente, bonita e excitante? Outro
homem também a chamava. O dono do bar, um mulato perneta, andava para ela, a
perna de pau fazendo um ruído seco ao pisar.
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