A noite foi longa. Estão estoiradas.... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 216
Foi ver no relógio da sala, conversavam na cozinha:
- As nove
passadas. E se não tiver?
- Se não tiver?
– Coçou a carapinha. – O coronel tá na roça, a mulher é ruim da cabeça, num
vale a pena.
- Que coronel?
- Seu Melk. Tu
conhece coronel Amâncio? Um do olho cego?
- Conheço de
mais. Vai muito no bar.
- Pois também
serve. Se não encontrar o dito Loirinho, tu procura o coronel que ele dá um
jeito.
A sorte era a meninota não dormir no emprego. Ia para
casa após o jantar. Gabriela levou o negro Fagundes para o quarto dos fundos,
onde tantos meses vivera. Ele pediu:
- Me dá mais um
trago?
- Entregou-lhe
a garrafa da cachaça:
- Não beba de
mais.
- Vá sem susto.
Só mais um trago para terminar de esquecer. Morrer, matado de bala, não faço
questão. A gente morre brigando, rindo contente. Judiado de faca quero não. É
morte cum raiva, triste e ruim. Vi um homem morrer assim. Coisa feia de ver.
Gabriela qui s
saber:
- Porque tu atirou? Que necessidade tinha? Que mal te
fez?
- Pra mim não
fez nada. Foi pró coronel. Loirinho mandou, que podia fazer? Cada um tem seu
ofício, esse é o meu. Também pra comprar um pedaço de terra, eu e Clemente. Já
tá apalavrado.
- Mas o homem
escapou. Vai ver, tu nem ganha nada.
- Como escapou,
eu nem sei. Não era o dia dele morrer.
Recomendou-lhe não fazer barulho, não acender a luz, não
sair do quartinho dos fundos. No morro, a caçada continuava. O gato, passando
veloz por entre o mato, enganara os jagunços. Batiam os bosques, palmo a palmo.
Gabriela calçou uns velhos sapatos amarelos. O relógio
marcava mais pouco mais de nove e meia. Àquela hora já mulher casada não saía
sozinha nas ruas de Ilhéus. Só prostituta. Nem pensou nisso. Nem pensou tão
pouco na reacção de Nacib se viesse a saber, nos comentários dos que a vissem
passar.
O negro Fagundes fora bom para ela na caminhada, junto
com os retirantes. Carregara seu tio nas costas, pouco antes de ele morrer.
Quando Clemente a derrubara com raiva, ele surgira para defendê-la. Não ia
deixá-lo sem ajuda, com risco de cair nas mãos dos jagunços.
Matar era ruim, gostava não! Mas negro Fagundes outra
coisa não sabia fazer. Não tinha aprendido, só sabia matar.
Saiu,
trancou a porta da rua, levou a chave. Na rua do Sapo nunca estivera, ficava
para os lados da Estrada de Ferro. Desceu para a praia. Via o bar animado,
muita gente de pé.
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