quinta-feira, outubro 25, 2012

Num feixe de luz e no meio de flores

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 127


Suspiros de Gabriela

Porque casara com ela? Precisava não… Bem melhor era antes. Seu Tónica influíra, com o olho nela, Dª Arminda botara fogo, adorava fazer casamento. Seu Nacib estava querendo, com medo de perdê-la, dela ir embora.

Besteira de seu Nacib. Porque ir embora, se estava contente a mais não poder? Com medo dela trocar a cozinha, a cama e seus braços por casa posta em rua deserta, por um fazendeiro.

Conta na loja e no armazém. Cada velho horroroso, calçado de botas, revólver na cinta, dinheiro no bolso. Bom tempo era aquele… Cozinhava, lavava a casa, arrumava. Ia ao bar levando a marmita. Uma rosa na orelha, um riso nos lábios.

Brincava com todos, sentia o desejo boiando no ar. Piscavam-lhe o olho, diziam-lhe gracejos, tocavam-lhe a mão por vezes o seio. Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado.

Seu Nacib vinha de noite. Ela esperando, dormia com ele, com os moços todos, bastava pensar, bastava querer. Lhe trazia presentes: coisas da feira, baratezas da loja do tio. Broches, pulseiras, anéis de vidro. Um pássaro lhe trouxe que ela soltou. Sapato apertado, gostava não…

Andava em chinela, vestida de pobre, um laço de fita. Gostava de tudo, do quintal de goiaba, mamão e pitanga. De sol esquentar com seu gato matreiro. De conversar com Tuísca, de fazê-lo dançar, de dançar para ele. Do dente de ouro que seu Nacib mandou lhe botar. De cantar de manhã, a trabalhar na cozinha. De andar pela rua, de ir ao cinema com Dª Arminda. De ir no circo quando, no Unhão, circo se armava. Bom tempo era aquele. Quando ela não era a senhora Saad, era só Gabriela. Só Gabriela.

Porque casara com ela. Era ruim ser casada, gostava não… Vestido bonito, o armário cheio. Sapato apertado, mais de três pares. Até jóias lhe dava. Um anel valia dinheiro, Dº Arminda soubera: custara quase dois contos de réis. Que ia fazer com esse mundo de coisas? Do que gostava, nada podia fazer… Roda na praça com Rosinha e Tuísca, não podia fazer. Ir ao bar, levando a marmita, não podia fazer. Rir pra seu Tonico, pra Josué, pra seu Ari, seu Epaminondas? Não podia fazer.

Andar descalça no passeio da casa, não podia fazer. Correr pela praia, todos os ventos em seus cabelos, descabelada, os pés dentro de água? Não podia fazer. Rir quando tinha vontade, fosse onde fosse, na frente dos outros, não podia fazer. Tudo quanto gostava, nada disso podia fazer. Era a Srª. Saad. Podia, não. Era ruim ser casada.

Nunca pensou ofendê-lo, jamais magoá-lo. Seu Nacib era bom, melhor não podia ser, no mundo não havia. Gostava dela, bem querer de verdade, loucura de amor.

Um homem tão grande, dono de bar, com dinheiro no banco. E doido por ela… Era engraçado! Os outros, todos os outros, não era por amor, só queriam com ela dormir, apertá-la nos braços, beijar sua boca, suspirar em seu seio. Os outros, todos os outros, sem excepção.

Velhos ou moços, bonitos ou feios, ricos ou pobres. Os de agora, os de antes, todos os outros. Sem excepção? Menos Clemente. Bebinho, talvez mas era menino, que sabia de amor? Seu Nacib, ah! esse sabia de amor.

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