quarta-feira, outubro 24, 2012

Passou a pequena crise...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 126


Não discutiu, não impôs. Estava com a cabeça voltada para o restaurante. Conseguira alugar o andar superior do sobrado onde ficava, no térreo, o bar Vesúvio. Tinha sido um cinema antes de Diógenes construir o Cine Teatro de Ilhéus. Dividiram-no depois em salas e quartos, onde moravam rapazes do comércio. Nas duas salas maiores funcionava o jogo do bicho.

O proprietário do prédio, o árabe Maluf, preferia alugar a um inquilino só. Melhor ainda Nacib, que já ocupava o outro andar. Deu um mês aos demais para a mudança. Nacib mantivera longa conversa com Mundinho Falcão. O exportador era partidário da ideia, estudaram uma sociedade.

Puxou uma revista da gaveta, mostrou-lhe geladeiras e frigoríficos, novidades de espantar em restaurantes estrangeiros. É claro que aquilo era demais para Ilhéus. Mas iam fazer coisa boa, melhor que qualquer da Baía.

Naqueles dias de tantos projectos, esquecia até o cansaço de Gabriela na hora do amor.

Tonico, infalível após a sesta, pouco antes das duas da tarde, a beber o seu amargo para ajudar a digestão (não mandava mais botar na conta, agora bebia sem pagar, era padrinho de casamento do dono do bar), perguntava-lhe em voz baixa:

 - Como vão as coisas em casa?

 - Melhor. Só que Gabriela anda muito cansada. Não quer mesmo botar arrumadeira, quer fazer tudo sòzinha. E ainda ajudar a vizinha. De noite está rebentada, morrendo de sono.

 - Você não deve forçar a natureza dela. Se você botar alguém para arrumar sem ela querer, vai lhe dar um desgosto. Por outro lado, árabe, você parece não entender que esposa não é mulher dama. Amor de esposa é recatado. Não é você mesmo que quer minha afilhada como uma senhora de respeito? Comece na cama, meu caro.

Pra se esparramar tem mulher sobrando em Ilhéus… Até demais. E algumas são do outro mundo. Você virou monge, nem vai mais ao cabaré…

 - Não quero outra mulher…

 - E depois se queixa que a sua está cansada…

 - Ela precisa botar empregada. Nem fica bem minha mulher arrumando casa.

Tonico batia-lhe a mão no ombro, ultimamente demorava menos, nem esperava João Fulgêncio:

 - Deixe estar, um dia desses vou dar uns conselhos à minha afilhada. Dizer a ela pra botar empregada. Deixe estar.

 - Dê mesmo. Ela lhe ouve muito. A você e a Dª Olga.

 - Sabe quem gosta de Gabriela um bocado de Gabriela? Jerusa, minha sobrinha. Fala sempre nela. Diz que a Gabriela é a mulher mais linda de Ilhéus.

 - E é mesmo… -  suspirou Nacib.

Tonico ia embora, Nacib pilheriava:

 - Você agora deu em sair cedo… Isso tem coisa… Mulher nova, não é? E guardando segredo pra seu velho Nacib…

 - Um dia eu lhe conto…

Saía para os lados do porto. Nacib pensava no restaurante. Que nome iria botar? Mundinho propunha “O Garfo de Prata” Nome mais sem graça, que queria dizer? Ele gostava de “Restaurante do Comércio”, um nome distinto.


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