terça-feira, outubro 23, 2012

Gabriela foi às compra com a sua vizinha Dª Arminda

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 125




 - Pra que eu não ligo, seu Nacib?

 - Pra mim. Eu chego e é como se eu não chegasse.

 - Precisa comida? Refresco de manga?

 - Refresco que nada! Acabou com os agrados, antes tu me puxava.

 - Seu Nacib chega cansado, não sei se me quer, fico sem jeito. Vira par dormir,  não quero abusar.

Torcia a ponta do lençol, olhava para baixo, tão triste nunca a vira. Nacib enternecia-se. Então era para não incomodá-lo, não aumentar o seu cansaço, deixá-lo repousar das fadigas do dia? A sua Bié?...

 - Que pensas de mim! Posso chegar cansado, mas para isso estou sempre pronto, não sou velho nem nada…

 - Quando seu Nacib me acena com o dedo, não estou junto dele? Quando vejo que quer…

 - Mas tem outra coisa também. Antigamente tu era um facho de fogo, um vento furioso. Agora é uma aragem, uma viração.

 - Não gosta mais do meu gosto? Tá enjoado de sua Bié?

 - Cada vez gosto mais, Bié. Sem tu não posso passar. É tu que parece ter enjoado. Perdeu aquela doideira.

Ela olhava para os lençóis, não olhava para ele:

 - Não é por nada, não. Também gosto de mais. Pode crer seu Nacib. Mas se dá que ando cansada, por isso é que é…

 - E quem é a culpada? Botei empregada para arrumar, você despediu. Botei moleca para cozinhar, você tinha que temperar. E quem é que cozinha? Quer fazer tudo como se ainda fosse criada?

 - Seu Nacib é tão bom, é mais que marido.

 - Às vezes não sou. Ralho contigo. Pensei que fosse por isso que tu andava assim. Mas é para teu bem que reclamo. Quero te ver fazendo figura.

 - Gosto de fazer a vontade de seu Nacib. Só que tem coisa que não sei fazer, não. Por mais que eu queira, não chego a gostar. Tenha paciência com sua Bié. Tem muito que me desculpar…

Ele a tomou nos braços. Ela enfiou a cabeça em seu peito, estava chorando.

 - Que foi que eu te fiz, Bié, porque está chorando? Não falo mais nisso, não foi por querer.

Os olhos dela fitos no lençol, enxugava as lágrimas com as costas das mãos, novamente encostava a cabeça em seu peito:

 - Fez nada, não... Eu é que sou ruim, seu Nacib é tão bom....

E novamente passou a esperá-la com o ardor de antes, para noites insones. A princípio ele ficou empolgado. Gabriela era melhor do que ele pensava. Bastava falar e agora ela arrancava-lhe o sono, o cansaço.

O cansaço dela, porém, era evidente, ia em aumento. Uma noite lhe disse:

- Bié, isso precisa acabar. E vai acabar.

 - O quê, seu Nacib?

 - Tu tá te matando de tanto trabalho.

 - Tou não, seu Nacib.

 - Tu nem aguenta de noite... - Sorriu. - Não é mesmo?

 - Seu Nacib é homem de força...

 - Vou te contar: já contratei o andar de cima do bar. Pró restaurante. Agora é só o tempo de sair os inquilinos, de limpar e pintar, arrumar direitinho. Penso que no princípio do ano pode se abrir. Seu Mundinho até quer se associar. Mandar buscar muita coisa no Rio, geladeira, fogão, não sei como, prato e copo que não quebra. Vou aceitar.

Ela bateu as mão num contentamento.

 - Vou mandar buscar duas cozinheiras seja onde for. Em Sergipe, talvez. Tu vai ficar só dirigindo. Escolhe os pratos, explica o tempero. Cozinhar mesmo, só para mim. E amanhã tu vai contratar arrumadeira, tu fica somente com a cozinha, até a cabrocha aprender. Quero ver amanhã arrumadeira nova nesta casa.

 - Pra quê, seu Nacib? Precisa não. Tou cansada porque andei ajudando na casa de dona Arminda.

 - Ainda por cima?

 - Ela teve doente, o senhor sabe. Não ia deixar a pobre sozinha. Mas já está melhor, precisa arrumadeira não. Gosto não.

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