domingo, outubro 21, 2012

Mercado Municipal

HOJE É 
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)


O ORÇAMENTO DA TROIKA

Era inevitável, um ano aconteceria em que não seria possível adiar mais o orçamento da “dolorosa” verdade a que chegámos. Percebendo isso, há quem advogue que nos devemos lançar no abismo do incumprimento na esperança de que quando nos estivermos a estatelar se abra um pára-quedas milagroso que nos salve das consequências do impacto.

A Grécia não cumpriu nenhum objectivo da troika e ainda não saíu do euro, porque iríamos sair nós? – pergunta Manuela Ferreira Leite.

São compreensíveis as dúvidas sobre até que ponto é que a economia portuguesa irá resistir à diminuição do poder de compra provocado pelo aumento dos impostos, sendo certo que o que vai para a “farinha não pode ir para o farelo” tanto mais que as projecções dos economistas se têm mostrado muito falíveis.

Têm a palavra os consumidores portugueses em 2013 inevitavelmente transformados em cobaias por culpa dos seus governantes.

Esta fuga para a frente suicidária de responsáveis políticos que ainda ontem estavam a comprar submarinos que nos faziam tanta falta como viola num enterro, é bem significativa da dificuldade que eles têm em olhar para trás e assumirem a responsabilidade pelos desgovernos que fizeram neste país nas últimas décadas ao mesmo tempo que faziam passar para o povo a mensagem de que estava tudo bem, de que tudo era possível.

A classe política organizou o país, nas últimas décadas, para viver à custa dos cidadãos e não para os cidadãos. Criou estruturas repetidas no próprio Estado, alimentou no orçamento milhares de entidades que não têm de prestar contas, controla sectores estratégicos fomentando monopólios e cartéis para obter o maior lucro no mais curto espaço de tempo juntando os centros de interesse como acontece, na grande maioria, das Parcerias Público Privadas!

Propositadamente, ou não, o sistema judicial, como tem sido visto pelos resultados conhecidos, tem anulado a intervenção dos Tribunais único órgão com competência para julgar o poder político.

 Está a tornar-se impossível esconder que o estado em que o País se encontra é, em grande parte, devido a uma série de decisões erradas e irresponsáveis daqueles que nos governaram, que legislaram por nosso mandato e pelos que assumiram as mais altas magistraturas do país ou seja: Governo, Assembleia da República e Presidente da República.

Agora, é muito mais fácil bater na Srª Merkel ou no esquisito do Gaspar e apelar para o alto espírito patriótico dos cidadãos do que fazer a mea-culpa que, é claro, não se esperaria que acontecesse da parte de todos aqueles, do arco do poder, que desempenharam cargos de relevo beneficiando de relações sombrias entre os interesses privados e o Estado, vivendo do sistema partidário ou à sombra dele, não se lhes conhecendo
nenhuma atitude de revolta, dentro ou fora dos seus partidos, para alterarem a situação.

 Em vez disso, mantiveram mensagens idílicas e mentirosas com que foram embalando os seus concidadãos ao longo dos últimos anos.

Ao contrário do que a classe política nos quer fazer crer, o que  fez chegar a esta situação tantos portugueses lançados na miséria, começa e acaba aqui mesmo, em Portugal, e agora somos nós que a temos de resolver com o recurso inevitável ao sofrimento dos cidadãos porque, está provado, a senhora de Fátima não faz milagres e a outra, a Merkel, está condicionada pela opinião pública do seu país ou, simplesmente, não arrisca o seu futuro político por nós.

Vamos ter, assim, de provar o amargo deste Orçamento de “Verdade” para uns, ou da “Impossibilidade”, para outros, afim de podermos argumentar com a Troika de que fomos até onde poderíamos ir num esforço que foi o preço que tivemos de pagar pelos governantes pouco avisados, para usarmos palavras simpáticas, que tivemos e nos conduziram aqui.

Se conseguirmos, o que não é certo, mais uma vez uns contraíram as dívidas e outros as vão pagar mas também não podemos dissociar completamente o povo dos políticos que os governam como se fossem duas entidades distintas.

O sistema democrático em que vivemos foi instituído recentemente, depois da revolução de 1974 e, desde então, as eleições foram sempre livres e democráticas. Podemos nos queixar das promessas vãs e das mentiras dos políticos em eleições para ganharem os votos, mas não era isso que queríamos ouvir? - Quantos de nós não aplaudimos "ofertas" demagógicas por altura de eleições apenas porque serviam os nossos interesses?

Ao se deixarem enganar, os cidadãos votantes revelaram pouco discernimento político e uma extraordinária capacidade para acreditarem em tudo o que lhes dizem e prometem e por isso não podem agora sair completamente de fora da situação em que se encontram hoje.

Se estes políticos não demonstraram competência e seriedade nos processos de governação, se nos enganaram, manipularam e passaram incólumes pelas malhas da justiça então, vote-se em branco. Ou se renovam ou não levam mais o voto.

Esteja-se entretanto atento, como pedra de toque, às modificações das leis sobre a justiça para ver se é possível continuar a acumular sinais exteriores de riqueza sem ter de provar em tribunal de onde é que ela vem.

O Orçamento vai ser discutido na Assembleia e com mais ou menos alterações, mitigado ou não, irá ser aprovado pela coligação... eu espero!.

Precisamos de Orçamento, não precisamos de instabilidade e de crise política. Todas as vozes de maior sensatez neste país pronunciaram-se neste sentido. Os excessos pagam-se com sacrifícios. Dizer mal da austeridade, condená-la, é consensual. Como fugir dela é a grande questão quando a Troika, representante dos nossos credores, continua a dizer que não.

"Pretender uma regeneração sem dor é um exercício de demência ou de demagogia que são naturais na extrema esquerda, agora acompanhados por um certo PS e até, de uma forma um nadinha perigosa, por um dos partidos que, se o termo não for excessivo, governa isto." (Alberto Gonçalves, sociólogo, Diário de Notícias, 21/Out./2012. 

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