Mercado Municipal |
HOJE É
DOMINGO
(Da minha cidade de
Santarém)
O ORÇAMENTO DA TROIKA
Era inevitável, um ano aconteceria em
que não seria possível adiar mais o orçamento da “dolorosa” verdade a que
chegámos. Percebendo isso, há quem advogue que nos devemos lançar no abismo do
incumprimento na esperança de que quando nos estivermos a estatelar se abra um
pára-quedas milagroso que nos salve das consequências do impacto.
A Grécia não cumpriu nenhum objectivo da
troika e ainda não saíu do euro, porque iríamos sair nós? – pergunta Manuela
Ferreira Leite.
São compreensíveis as dúvidas sobre até
que ponto é que a economia portuguesa irá resistir à diminuição do poder de
compra provocado pelo aumento dos impostos, sendo certo que o que vai para a “farinha
não pode ir para o farelo” tanto mais que as projecções dos economistas se têm
mostrado muito falíveis.
Têm a palavra os consumidores
portugueses em 2013 inevitavelmente transformados em cobaias por culpa dos seus
governantes.
Esta fuga para a frente suicidária de
responsáveis políticos que ainda ontem estavam a comprar submarinos que nos
faziam tanta falta como viola num enterro, é bem significativa da dificuldade que
eles têm em olhar para trás e assumirem a responsabilidade pelos desgovernos
que fizeram neste país nas últimas décadas ao mesmo tempo que faziam passar
para o povo a mensagem de que estava tudo bem, de que tudo era possível.
A classe política organizou o país, nas
últimas décadas, para viver à custa dos cidadãos e não para os cidadãos. Criou
estruturas repetidas no próprio Estado, alimentou no orçamento milhares de
entidades que não têm de prestar contas, controla sectores estratégicos fomentando monopólios e cartéis para obter o maior lucro no mais curto espaço de tempo juntando
os centros de interesse como acontece, na grande maioria, das Parcerias Público
Privadas!
Propositadamente, ou não, o sistema
judicial, como tem sido visto pelos resultados conhecidos, tem anulado a
intervenção dos Tribunais único órgão com competência para julgar o poder
político.
Está a tornar-se impossível esconder que o estado em que o País se encontra é, em grande parte, devido a uma série de decisões erradas e irresponsáveis daqueles que nos governaram, que legislaram por nosso mandato e pelos que assumiram as mais altas magistraturas do país ou seja: Governo, Assembleia da República e Presidente da República.
Está a tornar-se impossível esconder que o estado em que o País se encontra é, em grande parte, devido a uma série de decisões erradas e irresponsáveis daqueles que nos governaram, que legislaram por nosso mandato e pelos que assumiram as mais altas magistraturas do país ou seja: Governo, Assembleia da República e Presidente da República.
Agora, é muito mais fácil bater na Srª
Merkel ou no esqui sito do Gaspar e
apelar para o alto espírito patriótico dos cidadãos do que fazer a mea-culpa
que, é claro, não se esperaria que acontecesse da parte de todos aqueles, do
arco do poder, que desempenharam cargos de relevo beneficiando de relações
sombrias entre os interesses privados e o Estado, vivendo do sistema partidário
ou à sombra dele, não se lhes conhecendo
nenhuma atitude de revolta, dentro ou
fora dos seus partidos, para alterarem a situação.
Em vez disso, mantiveram mensagens idílicas e
mentirosas com que foram embalando os seus concidadãos ao longo dos últimos
anos.
Ao contrário do que a classe política
nos quer fazer crer, o que fez chegar a esta situação tantos portugueses
lançados na miséria, começa e acaba aqui
mesmo, em Portugal, e agora somos nós que a temos de resolver com o recurso
inevitável ao sofrimento dos cidadãos porque, está provado, a senhora de Fátima
não faz milagres e a outra, a Merkel, está condicionada pela opinião pública do
seu país ou, simplesmente, não arrisca o seu futuro político por nós.
Vamos ter, assim, de provar o amargo deste
Orçamento de “Verdade” para uns, ou da “Impossibilidade”, para outros, afim de
podermos argumentar com a Troika de que fomos até onde poderíamos ir num esforço
que foi o preço que tivemos de pagar pelos governantes pouco avisados, para usarmos palavras simpáticas, que
tivemos e nos conduziram aqui .
Se conseguirmos, o que não é certo, mais
uma vez uns contraíram as dívidas e outros as vão pagar mas também não podemos
dissociar completamente o povo dos políticos que os governam como se fossem
duas entidades distintas.
O sistema democrático em que vivemos foi
instituído recentemente, depois da revolução de 1974 e, desde então, as eleições
foram sempre livres e democráticas. Podemos nos queixar das promessas vãs e das
mentiras dos políticos em eleições para ganharem os votos, mas não era isso que
queríamos ouvir? - Quantos de nós não aplaudimos "ofertas" demagógicas por altura de eleições apenas porque serviam os nossos interesses?
Ao se deixarem enganar, os cidadãos
votantes revelaram pouco discernimento político e uma extraordinária capacidade
para acreditarem em tudo o que lhes dizem e prometem e por isso não podem agora
sair completamente de fora da situação em que se encontram hoje.
Se estes políticos não demonstraram
competência e seriedade nos processos de governação, se nos enganaram, manipularam
e passaram incólumes pelas malhas da justiça então, vote-se em branco. Ou se renovam
ou não levam mais o voto.
Esteja-se entretanto atento, como pedra
de toque, às modificações das leis sobre a justiça para ver se é possível
continuar a acumular sinais exteriores de riqueza sem ter de provar em tribunal
de onde é que ela vem.
O Orçamento vai ser discutido na
Assembleia e com mais ou menos alterações, mitigado ou não, irá ser aprovado
pela coligação... eu espero!.
Precisamos de Orçamento, não precisamos
de instabilidade e de crise política. Todas as vozes de maior sensatez neste país
pronunciaram-se neste sentido. Os excessos pagam-se com sacrifícios. Dizer mal
da austeridade, condená-la, é consensual. Como fugir dela é a grande questão
quando a Troika, representante dos nossos credores, continua a dizer que não.
"Pretender uma regeneração sem dor é um exercício de demência ou de demagogia que são naturais na extrema esquerda, agora acompanhados por um certo PS e até, de uma forma um nadinha perigosa, por um dos partidos que, se o termo não for excessivo, governa isto." (Alberto Gonçalves, sociólogo, Diário de Notícias, 21/Out./2012.
"Pretender uma regeneração sem dor é um exercício de demência ou de demagogia que são naturais na extrema esquerda, agora acompanhados por um certo PS e até, de uma forma um nadinha perigosa, por um dos partidos que, se o termo não for excessivo, governa isto." (Alberto Gonçalves, sociólogo, Diário de Notícias, 21/Out./2012.
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