sexta-feira, outubro 19, 2012


O Alexandre e o Mar

O meu colega e amigo Alexandre, vítima precoce de um cancro feroz, desengalgado, que o tomou de gancho e decidiu perder pouco tempo com ele porque, vá lá saber-se… não simpatizou ou talvez apenas por ter muito que fazer… levou-o dolorosa e rapidamente.

Sem paciência, nem tempo e muito menos disposição porque as dores eram muitas, o Alexandre, nos últimos dias da sua vida, pedia à Bela, sua mulher de sempre, que o metesse no carro e o levasse a ver o mar.

Estendendo a vista pelo horizonte sem fim das esverdeadas águas do Oceano Atlântico, ele encontrava como que a continuação da vida que lhe fugia, a sensação que desejava e as paredes do seu quarto não lhe permitiam.

Agradeço-te, Alexandre, não me teres chamado para o pé de ti, como fazias quando eu te lia, nos bancos do Jardim do Príncipe Real, um livro do Pitigrilli. Então, chorávamos a rir e era muito agradável… Poupaste-me as lágrimas que em nada te teriam ajudado. Ficaram, no entanto, sem eu o saber, para serem derramadas sobre a carta em que a Bela me deu a noticia, tempos depois, do que foram os teus últimos momentos.

Agora, gosto de pensar que ficaste à beira-mar e neste momento, neste preciso momento, continuas lá, sentado em uma qualquer rocha, num local à tua escolha, olhando o horizonte sem que nada se possa intrometer entre a tua vista e o infinito.

Tomei a liberdade de escolher estas águas, de vários tons, entre eles o verde, o nosso verde... com o branco da espuma, como o nosso Sporting.
Repara, que o horizonte está livre, desocupado, nada impede a tua vista de o percorrer sem limites... Vê, como ele está pacífico, submisso, doce, parece convidar-te a ires com ele, a ti, que o procuraste nos últimos dias da tua vida para mitigares o teu sofrimento.


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