Carnes não abundam mas....talvez seja bailarina. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 120
Entrou em ruas desertas,
chegou ao Grupo Escolar, localizou a residência de Amâncio, uma de portão azul
como o dono do Bate-Fundo a informara.
Tudo em silêncio, as luzes
apagadas. Agora uma lua tardia subia no céu, iluminava a praia larga, os
coqueiros no caminho do Malhado. Bateu palmas, sem resultado. Novamente.
Cachorros latiram na vizinhança, outros mais longe responderam. Gabriela
gritou: «Ó de casa!» Bateu as mãos outra vez com toda a força, chegavam a doer.
Finalmente houve movimento nos fundos da casa. Acenderam uma luz, perguntaram:
- Quem é?
- É de paz.
Um mulato surgiu, nu da
cintura para cima, arma na mão.
- Seu coronel Amâncio está?
- Que quer com ele? – Olhava-a desconfiado.
- É coisa de precisão e de muita pressa.
- Não tá não.
- E onde está?
- Para que quer saber, o que quer com ele?
- Já disse…
- Não disse nada. De precisão e de pressa… Só
isso?
Que podia fazer? Devia
arriscar:
- Tenho um recado para ele.
- De quem?
- De Fagundes…
O homem recuou um passo,
adiantou-se depois, fitou-a:
- Tá falando a verdade?
- Pura verdade…
- Olhe bem para mim: se não for verdade…
- Depressa, faz o favor.
- Espera aí.
Entrou em casa, demorou uns
minutos, voltou, havia vestido uma camisa e apagado a luz.
- Venha comigo – Enfiou o revólver entre a
calça e a barriga, a coronha aparecia.
Voltaram a andar. Este não
lhe fez senão uma pergunta:
- Ele conseguiu escapar?
Respondeu com a cabeça.
Entraram na rua do coronel Ramiro. Pararam frente à casa tão conhecida. Na esqui na, próximo da Intendência, dois soldados de
polícia olharam e deram alguns passos em direcção a eles. O homem do revólver
batia na porta. Pelas janelas abertas saía um rumor abafado de vozes. Jerusa
apareceu na janela, olhou Gabriela num espanto tão grande que ela sorriu. Tanta
gente se espantara ao vê-la naquela noite…
Mais que todos, o negro
Fagundes.
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