sábado, novembro 10, 2012


Ainda Precisamos dos EUA


O que ainda hoje sobra de ordem e de arranjos institucionais neste mundo de anarquia podre ficou a dever-se ao trabalho dos presidentes F. D. Roosevelt e Truman na fundação e fortalecimento das Nações Unidas.

Apesar de em 1945 os EUA deterem 50% do PIB mundial, Washington escolheu o caminho da cooperação, em vez da via da arrogância. Mais ainda, embora entre 1945 – 49 os EUA tivessem gozado do monopólio da arma atómica, a Casa Branca respondeu sempre com moderação às provocações constantes de Estaline, nomeadamente no bloqueio de Berlim (1948-1949).

Para Eduardo Lourenço, «não há exemplo na história humana, de semelhante autocontrole e auto-limitação de poderio na relação entre os povos».

Se hoje a Alemanha e o Japão são grandes potencias económicas, isso ficou a dever-se ao facto de terem sido os EUA (e não só a Rússia ou a Grã-Bretanha) a imporem as condições em que os derrotados iriam retornar à condição de potências civilizadas num quadro de normalidade internacional.

Em vez de pesadas indemnizações de guerra, os EUA ofereceram aos derrotados apoio económico e constituições democráticas. As condições do Plano Marshall, em 1947, são muito mais favoráveis do que as exigências contidas nos memorandos impostos pela troika á Grécia, à Irlanda e a Portugal.

O leitor já deve saber quem ganhou as eleições nos EUA, na altura em que ler estas palavras. O apoio da opinião pública mundial a Barack Obama, deveu-se, muitas vezes de modo confuso, á consciência de que apesar de todos os limites, insuficiências e desilusões (em particular nas áreas do ambiente, clima e energia) da sua presidência, Obama estará em melhores condições do que Romney para assegurar que, na passagem para um mundo «mundo pós-americano» e multipolar, os EUA não deixarão de usar as instituições, a diplomacia e o “soft power” para tornar este planeta onde todos nos acotovelamos perigosamente, num sítio um pouco mais habitável.

Para nós, portugueses e europeus, a vitória de Romney teria sido (espero não me enganar no tempo do verbo) mais um factor de angústia. Com Romney, a estúpida estratégia da austeridade que domina a Europa, estender-se-ia aos EUA, lançando o planeta inteiro num inverno de pobreza e desigualdade.

Os últimos anos ensinaram-nos que a «pulsão de morte», descoberta por Freud nas profundezas da condição humana, também existe nas nações. Na Europa ela tem em Angel Merkel o seu rosto. Nos EUA, a sua face é Mitt Romney.

Só espero que os eleitores americanos tenham escolhido a «pulsão da vida».

Victor Soromenho Marques
(Prof. Catedrático da Fac. de Letras de Lisboa)

P.SSoromenho Marques arriscou neste artigo, de que este trecho é a parte final, a vitória de Obama. Como sabem, eu congratulo-me bastante que ele não se tenha enganado.
 Mesmo com os poderosos milionários reaccionários, (há excepções) representados na Câmara dos Representantes contra si, não tenho dúvidas que o mundo fica menos perigoso com Obama. Ainda não esquecemos o negócio que foi a guerra do Iraque.

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