GABRIELA
CRAVO
Conversa de comadres em Ilhéus |
E
CANELA
Episódio Nº 147
Nacib estava casado há uns
cinco meses sem reclamar. E como iria ele, Tonico, confessar de público ter
falsificado papéis? Não se estava mais tempo no velho Segismundo, que vendia
certidões de nascimento e escrituras de terras. Ezequi el
suspendeu os ombros, exclamou para João Fulgêncio:
- Não lhe disse?
- Tonico, isso pode-se arranjar – falou João
Fulgêncio – Vamos conversar com o Juiz. Encontra-se um caminho para contornar a
situação, para que a falsificação de papéis não venha a público. Ou pelo menos
para você não aparecer como culpado.
Pode-se dizer que você agiu
de boa fé, que foi enganado por Gabriela. Inventa-se uma história qualquer.
Afinal, isso que se chama de civilização ilheense foi construída à base de
documentos falsos.
Mas Tonico ainda resistia.
Não desejava seu nome misturado naqui lo.
- Misturado você está, meu caro – disse Ezequi el – enterrado de cabeça. De duas, uma: ou você
concorda, vai connosco ao juiz para arranjarmos tudo amigável e rapidamente, ou
hoje mesmo inicio o processo, em nome de Nacib. De anulação de casamento. Por
erro essencial de pessoa devido a documentos forjados por você. Forjados para
casar sua amante, de quem continuou a gozar dos favores depois, com um homem
bom e ingénuo de quem você se dizia amigo.
Você entra no caso por duas
portas: a da falsificação e a do adultério. E em ambas com premeditação. É um
caso bonito.
Tonico quase perdia a fala:
- Ezequi el,
por favor, quer me desgraçar?
João Fulgêncio completava.
- Que dirá D. Olga? E seu pai, o coronel
Ramiro?
Você já pensou? Ele não
resistirá ao escândalo, morrerá de vergonha e você será o culpado. Estou lhe
avisando porque não quero que aconteça.
- Porque me meti nisso, meu Deus? Só arranjei
os papéis para ajudar. Ainda não tinha nada com ela…
- Venha connosco ao juiz, é melhor para todo o
mundo. Senão, quero lhe avisar lealmente, a história sai todinha amanhã no
Diário de ilhéus. Escrita por mim para você não aparecer como galã. Por mim
João Fulgêncio…
- Mas, João sempre fomos amigos…
- Eu sei. Mas você abusou de Nacib. Se fosse
com a mulher de outro não me importava. Sou amigo dele e também de Gabriela.
Você abusou dos dois. Ou você concorda ou vou-lhe cobrir de vergonha, botá-lo
no ridículo. Com a situação política como está, você nem poderá continuar em
Ilhéus.
Toda a empáfia de Tonico
vinha abaixo. O escândalo o horrorizava. Medo de Dª Olga saber, de o pai tomar
conhecimento. O melhor era mesmo engolir a pílula, ir ao Juiz, contar a
falsificação dos papéis.
Faço o que qui serem. Mas, por amor de Deus, vamos arranjar essa
história dos papéis da melhor maneira possível. Afinal, somos amigos.
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