segunda-feira, novembro 19, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 142


Contava com o restaurante para terminar de educá-la. O próprio Tonico Bastos era dessa opinião. Para o restaurante teria de contratar duas ou três ajudantes de cozinheira, de tal forma que Gabriela ali aparecesse como senhora e dona, apenas dirigindo e temperando. Tratando diariamente com gente fina.

O que mais o aborrecia era ela não querer arrumadeira. A casa era pequena, porém ainda assim dava trabalho. Sobretudo levando-se em conta que ela continuava a cozinhar para ele e para o bar. A própria cabrocha se queixava que Dª Gabriela não a deixava fazer nada. Apenas lavava os pratos, mexia as panelas, cortava a carne. Mas era Gabriela quem preparava a comida, não largava o fogão.

Sucedeu a desgraça numa tarde calma, quando ele gozava de perfeita tranquilidade de espírito e alegrava-se com a notícia acabada de receber da mudança do jogo do bicho para umas salas no centro comercial. Era só apressar a saída dos dois caixeiros da loja.

Não tardariam a chegar em navio da Costeira ou do Lloyd as encomendas do Rio. Já tinha pintor e pedreiros contratados para transformar o andar dividido por tabiques e sujo, num brinco, numa sala clara, com uma cozinha moderna.

Gabriela não quisera ouvir falar de fogão de metal. Exigia um daqueles grandes fogões de tijolos, queimando lenha. Tudo discutido com o pedreiro, com o pintor. Pois naquela tarde pegou em flagrante Bico Fino a tirar dinheiro da caixa. Não foi surpresa, Nacib vinha desconfiando desde algum tempo.

Perdeu a cabeça deu uns sopapos no rapazola:

 - Ladrão! Gatuno!

Curioso que nem pensava despedi-lo. Dar-lhe uma lição para corrigi-lo, isso sim. Mas Bico Fino, atirado atrás do balcão com a bofetada, pegou a insultá-lo:

 - Ladrão é você, turco de merda! Misturador de bebidas. Roubando nas contas. Teve de lhe dar mais uns tabefes, porém ainda não pensava despedi-lo. Tomou de Bico Fino pela camisa, levantou-o, aplicou-lhe com força a mão na cara:

 - Para aprender a não roubar. Soltou-o, ele saltou fora do balcão, a chorar e a insultar:

- Porque não vai bater em sua mãe? Ou em sua mulher?

 - Cala a boca ou te bato de verdade.

 - Venha bater!... – Fugia para a porta, gritava – Turco cabrão, filho de uma cadela! Porque não toma conta de sua mulher? Não sente os chifres doer?

Nacib aproximou-se, conseguiu segurá-lo:

 - O que é que tu tá dizendo?

Bico Fino teve medo da cara do árabe:

 - Nada, seu Nacib. Me solte…

 - O que é que tu sabe? Diz ou te rebento todo.

 - Foi Chico Moleza quem me contou.
 - O quê?

 - Que ela anda metida com seu Tonico…


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