segunda-feira, dezembro 03, 2012

Até que ponto reiste o amor?

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 154

Nacib assentiu, confortado. Certo de que acontecera com Mundinho Falcão caso idêntico ao seu. Mulher bem-amada a traí-lo com outro. Mas teria havido casamento e descasamento? Quase pergunta. Sentia-se em boa companhia.

 - Pois, meu caro, quero lhe falar do restaurante. Já devia estar inaugurado. É verdade que as coisas encomendadas no Rio ainda não chegaram. Mas estão estourando por aí. Já embarcaram num Ita.

Não quis lhe incomodar com isso, você andava agoniado, mas, afinal, vão mais ou menos dois meses que os últimos inquilinos se mudaram do andar. É tempo de pensarmos no negócio. Ou você desistiu?

 - Não, senhor. Porque havia de desistir? Só que no começo não podia pensar. Mas agora já está tudo em ordem.

 - Pois muito bem, é tocar para a frente. Mandar fazer a reforma da sala, receber as encomendas do Rio. Para ver se inauguramos no princípio de Abril.

 - Pode ficar descansado.

De volta ao bar mandou chamar o pedreiro, o pintor, o electricista. Discutiu os planos da reforma, novamente cheio de entusiasmo, pensando no dinheiro a ganhar. Se tudo marchasse bem, com um ano no máximo, poderia adquirir a sonhada roça de cacau.

Em toda aquela história, só mesmo sua irmã e cunhado se portaram mal. Vieram a Ilhéus apenas souberam a notícia. A irmã o infernou: «Não te disse?» O cunhado, com seu anel de doutor, um ar de fastio, de quem sofria do estômago. A falarem mal de Gabriela, a lastimarem Nacib. Ele calado, com vontade de pô-los fora de casa.

A irmã varejara os armários, examinando os vestidos, os sapatos, as combinações, as anáguas, os xales. Certos vestidos jamais os pusera Gabriela. A irmã exclamava:

 - Esse está novo, nunca foi usado. Dá direitinho para mim.

Nacib rosnou.

 - Deixe isso aí. Não bula nessas coisas.

 - E ainda mais essa! – ofendeu-se a Saad de Castro.

 - Será roupa de santo?

 Voltaram para Água Preta. A cobiça da irmã recordava-lhe o dinheiro gasto em vestidos, em sapatos, em jóias.

As jóias bastava levá-las onde havia comprado, restituir com pequeno prejuízo. Os vestidos podia vender na loja do tio. Também dois pares de sapatos novos. Nunca haviam sido calçados. Era o que tinha a fazer. Mas, durante algum tempo, esqueceu a ideia, nem olhava para os armários trancados.

No dia seguinte à conversa com Mundinho, meteu as jóias no bolso do paletó, fez dois embrulhos com os vestidos, os sapatos. Passou no joalheiro, depois na loja do tio.


Da cobra-de- vidro

No fim da tarde, naquele crepúsculo interminável das roças, quando as sombras viravam assombrações pelas matas e cacuais, a noite chegando sem pressa como a prolongar o estafante dia de trabalho, Fagundes e Clemente terminaram de plantar.

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