segunda-feira, dezembro 24, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 172

Para experimentá-lo, pediu-lhe que fizesse por fazer os salgados e doces para o bar e a comida para ele, Nacib. Novamente botou as mãos na cabeça. A comida ficava caríssima, os salgados também.

O Chefe de cuisine adorava latas de conservas: azeitonas, peixes, presuntos. Cada bolinho custava-lhe quase o preço de venda. E eram pesados, com muita massa. Que diferença, meu Deus! Entre as empadas de Fernand e as de Gabriela.

Umas de pura massa a entrar pelos dentes, a pegar no céu da boca. As outras picantes e frágeis, dissolvendo-se na língua, pedindo bebida. Nacib balançava a cabeça.

Convidou João Fulgêncio, Nhô-Galo, o Doutor, Josué e o Capitão para um almoço preparado pelo nobre chefe.

Maioneses, caldo verde, galinha à milanesa, file com fritas. Não é que fosse má comida, não era. Como compará-la, porém, com os pratos da terra, temperados, cheirosos, picantes, coloridos? Como compará-la com a comida da Gabriela?

Josué recordava: eram poemas de camarão e dendé de peixe e leite de coco, de carnes e pimenta. Nacib não sabia como tudo aquilo iria acabar. Aceitariam os fregueses esses pratos desconhecidos, esses molhos brancos? Comiam sem saber o que estavam comendo, se era peixe, carne ou galinha. O Capitão resumia numa frase:

 - Muito bom mas não presta.

Quanto a Nacib, esse brasileiro nascido na Síria, sentia-se estrangeiro ante qualquer prato que não fosse baiano, à excepção de quibe. Era exclusivista em matéria de cozinha.

Mas, que fazer? O homem estava ali, ganhando ordenado de príncipe, impando de importância e impertinência, a cacarejar em francês. Punha uns olhos lânguidos em Chico moleza, o rapazola já o ameaçara com uns trancos.

Nacib temia pela sorte do restaurante. No entanto, havia grande curiosidade, falava-se do chef como de uma figura importante, dizia-se ter dirigido famosos restaurantes, inventavam-se histórias. Sobretudo a respeito das aulas de culinária, ditadas por ele às cabrochas vindas para ajudá-lo.

As pobres não entendiam nada, a sergipana, enciumada, dera-lhe o apelido de «capitão carijó».

Finalmente, tudo ficou pronto e a inauguração foi anunciada para um domingo. Um grande almoço seria oferecido pelos proprietários do Restaurante do Comércio às personagens locais.

Nacib convidou todos os notáveis de Ilhéus, todos os bons fregueses do bar. À excepção de Tonico Bastos, é claro. O chefe de cuisine estudou um cardápio dos mais complicados.

Nacib pensava nas insinuações de Dª Arminda. Não havia cozinheira como Gabriela. Infelizmente impossível, fora de cogitação. Uma lástima.


Do camarada do campo de batalha

Quando a lua surgia por detrás da pedra do Rapa, rasgando o negrume da noite, as costureiras viravam pastoras. Dora se transformava em rainha, a casa de Dora em barco de vela.

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