quinta-feira, dezembro 27, 2012

Porque tu és triste mulher? - Não sou. Só estou.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 174


Na Baía, em Sergipe, em Alagoas, nas rodas de capoeira, nos te, nos mercados e feiras, no escondido do cais, nos bares dos portos. Mesmo seu Nilo com respeito o tratava, quem podia com ele? A tatuagem no peito lembrava a solidão da cadeia. Donde vinha? De morte matada. Estava de passagem e tinha pressa.

No cais da Baía por ele esperavam os jogadores de ronda, os mestres de Angola, os pais de terreiro e quatro mulheres. Era só o tempo da polícia esquecer. Aproveitem meninas!

Nos domingos de tarde, nos fundos da casa, no limpo quintal, soava o berimbau. Vinham mulatos e negros, brincar o brinquedo. Sete Voltas tocava e cantava:

Camarada do campo de batalha
Vamos embora
Pelo mundo afora.
Eh! Camarada…

Entregava o instrumento a seu Nilo, entrava na roda da capoeira. O rabo de arraia, Terêncio voava. As pernas no ar, passara por cima do mulato Traíra. O moço Baptista caía no chão, Sete Voltas pegava o lenço com a boca. No campo de batalha ficava sozinho, seu peito tatuado.

Na praia, junto aos rochedos, Sete Voltas mordia as areias de Gabriela, as ondas de seu mar de espumas e tempestades. Ela era a doçura do mundo, a claridade do dia, o segredo da noite. Mas a tristeza persistia, andava na areia, corria para o mar, soava no rochedo.

 - Porque tu é triste, mulher?

 - Sou não. Só estou.

- Não quero tristeza junto de mim. Meu santo é alegre, meu natural folgazão. Mato a tristeza com minha navalha.

 - Mata não.

 - E porque não?

Queria um fogão, um quintal de goiaba, mamão e pitanga, um quarto dos fundos, um homem tão bom.

 - Não basta como eu? Tem mulher capaz de matar e morrer por esse moreno, tu pode agradecer tua sorte.

 - Basta não. Ninguém basta não. Tudo junto não basta.

 - É assim de não poder esquecer?

 - Assim.

 - Então,

 - Então é ruim.

 - É não ter gosto na boca.

 - É ruim.

 - É não ter alegria no peito.

 - Ruim.

Uma noite a levou, na véspera fora Miquelina, no sábado Paula dos peitos de rola, era o ansiado turno de Gabriela.

Na casa de Dora, seu Nilo na rede com a rainha no colo. O barco de vela arribava a seu porto.

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