Porque tu és triste mulher? - Não sou. Só estou. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 174
Na Baía, em Sergipe, em
Alagoas, nas rodas de capoeira, nos te, nos mercados e feiras, no escondido do
cais, nos bares dos portos. Mesmo seu Nilo com respeito o tratava, quem podia
com ele? A tatuagem no peito lembrava a solidão da cadeia. Donde vinha? De
morte matada. Estava de passagem e tinha pressa.
No cais da Baía por ele
esperavam os jogadores de ronda, os mestres de Angola, os pais de terreiro e
quatro mulheres. Era só o tempo da polícia esquecer. Aproveitem meninas!
Nos domingos de tarde, nos
fundos da casa, no limpo qui ntal,
soava o berimbau. Vinham mulatos e negros, brincar o brinquedo. Sete Voltas
tocava e cantava:
Camarada do campo de
batalha
Vamos embora
Pelo mundo afora.
Eh! Camarada…
Entregava o instrumento a
seu Nilo, entrava na roda da capoeira. O rabo de arraia, Terêncio voava. As
pernas no ar, passara por cima do mulato Traíra. O moço Baptista caía no chão,
Sete Voltas pegava o lenço com a boca. No campo de batalha ficava sozinho, seu
peito tatuado.
Na praia, junto aos
rochedos, Sete Voltas mordia as areias de Gabriela, as ondas de seu mar de
espumas e tempestades. Ela era a doçura do mundo, a claridade do dia, o segredo
da noite. Mas a tristeza persistia, andava na areia, corria para o mar, soava
no rochedo.
- Porque tu é triste, mulher?
- Sou não. Só estou.
- Não quero tristeza junto
de mim. Meu santo é alegre, meu natural folgazão. Mato a tristeza com minha
navalha.
- Mata não.
- E porque não?
Queria um fogão, um qui ntal de goiaba, mamão e pitanga, um quarto dos
fundos, um homem tão bom.
- Não basta como eu? Tem mulher capaz de matar
e morrer por esse moreno, tu pode agradecer tua sorte.
- Basta não. Ninguém basta não. Tudo junto não
basta.
- É assim de não poder esquecer?
- Assim.
- Então,
- Então é ruim.
- É não ter gosto na boca.
- É ruim.
- É não ter alegria no peito.
- Ruim.
Uma noite a levou, na véspera
fora Miquelina, no sábado Paula dos peitos de rola, era o ansiado turno de
Gabriela.
Na casa de Dora, seu Nilo
na rede com a rainha no colo. O barco de vela arribava a seu porto.
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