sábado, dezembro 01, 2012

Será que a reconciliação é impossível?

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 153

Sem falar na bofetada. Foi glosada em prosa e verso. Josué compusera um epigrama. Sobre Gabriela ninguém falava. Nem bem nem mal como se ela estivesse mais além de todo o comentário ou como se não mais existisse.

Não erguiam a voz contra ela e alguns até a defendiam. Afinal rapariga de casa montada tem um pouco o direito a divertir-se. Não fora casada, não tinha a menor importância.

Ela continuava em casa de D. Arminda. Nacib não voltara a vê-la. Pela parteira soubera que ela costurava para o florescente atelier de Dora. E por outros sabia das ofertas a chover sobre ela, em recados, cartas, bilhetes. Plínio Araçá mandara-lhe dizer que fizesse ordenado.

Manuel das Onças novamente a rondava. Também Ribeirinho. O Juiz estava disposto a romper com a rapariga, botar casa para ela. Segundo constava até o árabe Maluf, aparentemente tão sério era candidato.

Coisa esquisita: não havia proposta capaz de tentá-la. Nem casa, nem conta em loja, nem roça plantada, nem dinheiro batido. Costurava para Dora.

Fora sério prejuízo para o bar. A cabrocha fazia uma comida sem gosto. Os salgados e doces vinham mais uma vez das irmãs Dos Reis, careiras de mais. Fazendo por favor, ainda por cima. Nacib não encontrava cozinheira.

Pensando no restaurante, mandara encomendar uma em Sergipe, mas ainda não chegara. Engajara um outro empregado, um rapazola Walter. Sem prática, não sabia servir. Fora um prejuízo danado.

Quanto ao projecto do restaurante quase leva o diabo. Durante algum tempo nem se preocupou com o bar e restaurante. Os dois caixeiros mudaram-se do andar de cima quando Nacib ainda estava naquela primeira fase, de desespero, quando a ausência de Gabriela era a única realidade a encher-lhe o vazio dos dias.

Mas, ao completar-se o primeiro mês do andar desocupado, Maluf mandou-lhe o recibo do aluguer. Pagou e com isso teve de pensar no restaurante. Ainda assim, ia adiantado. Certa tarde, Mundinho Falcão enviou-lhe um recado, pedindo sua presença no escritório da casa exportadora.

Foi recebido com demonstração de muita amizade. Mundinho há tempos não aparecia no bar, andava pelo interior, em campanha eleitoral. Uma vez Nacib o avistara no cabaré. Apenas se falaram, Mundinho dançava.

 - Então, como vai a vida, Nacib? Prosperando sempre?

 - Vivendo – E para liquidar o assunto, falou: - O senhor já deve saber o que me sucedeu. Sou um homem solteiro de novo.

 - Falaram-me. Formidável o que você fez. Agiu como um europeu. Um homem de Londres, de Paris. – Olhava-o com simpatia – Mas me diga uma coisa, aqui para nós: ainda dói um pouco por dentro, não dói?

Sobressaltou-se Nacib. Porque lhe perguntava aquilo?

 - Sei como é isso – continuava Mundinho – comigo sucedeu uma coisa não digo parecida, mas de certa maneira semelhante. Foi por isso que vim para Ilhéus. Com o tempo a ferida cicatriza. Mas, de vez em quando, ainda dói. Quando ameaça chuva, não é?

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