sexta-feira, novembro 30, 2012

Afonso Henriques proclamado Rei no campo da batalha

AFONSO HENRIQUES
 Nosso Rei Fundador
(continuação)


Batalha de Ourique (II)


A crónica mais antiga, de Duarte Galvão (1446 – 1517), refere claramente: «… andando (D. Afonso Henriques) suas jornadas, veio a um lugar, que ora se chama Cabeça de Rei junto a Castro Verde…». Esta localidade, assim assinalada não dista mais que um bom galope do sítio em que o Infante se encontrou com o rei Imar.

Mas, para além do mais, pode dizer-se que a batalha de Campo De Ourique decorreu num verdadeiro mundo das três dimensões. O jovem príncipe, seu protagonista, herdou um reino que para o Sul que não possuía cancelas nem fronteiras. Aberto como um descampado. Pobre, ambicioso e cristão e, para cúmulo, longe a muita soma de léguas da corte, logo percebeu que a extremidade Sul do território com a sua elasticidade, era para onde devia convergir as suas melhores atenções.

Para engrandecer-se era por ali que devia acometer, para dar lustro à sua espada era aquele quadrante o mais favorável e, já agora, para resolver determinados apuros económicos e financeiros pois que, a lei daquele tempo, permitia fazer mão baixa sobre os haveres dos vencidos.

Melhor não havia, portanto, que assaltar moiros repletos de toda a espécie de gados e de frutos. Nos agregados urbanos acumulavam-se riquezas de gerações de potentados árabes e de ricos judeus.

Daqui, a guerra incessante com o moiro, esse contínuo malhar de martelo e bigorna, empurrando aquele cada vez mais para longe, pilhando-o nas deslocações.

Por cada légua de território não se encontrava um moiro. A moirama era uma escumalha escassa na grande área peninsular. Nada de população rural. O que havia eram nódulos populacionais distantíssimos uns dos outros: Alcácer, Setúbal, Palmela, Almada, Lisboa, Santarém, Sintra, Leiria.

Foi sempre assim até ao resto. Salvo a Andaluzia e o Algarve a dominação árabe não foi mais do que babugem. Regra geral a Hispânia era deserta, terra de ninguém.

Do alto das torres e atalaias, os vigias bem espiavam com olhos de lince o que decorria nas redondezas. Podiam acaso penetrar na escuridão e ver o que se passava à chama indecisa das estrelas?

O cronista Duarte Galvão reza deste modo a marcha do príncipe para o Sul… «passou o Tejo e as charnecas mui grandes e despovoadas que ainda hi há e então seriam maiores…»

Afonso Henriques largava com o lusco-fusco das cidadelas, Coimbra, Guimarães, Lamego, à testa da sua coluna, tal como os antigos lusitanos. Todos montados. Cada cavaleiro levava o seu surrão provido para a jornada.

Pernoitavam no recesso dos bosques e nas brenhas dos montes, e os garranos pastavam onde havia erva. Ao cabo de cinco, seis dias de marcha caíam sobre o infiel, inopinadamente, como gerifaltes.

Assim teria sucedido na gesta de Ourique. A hoste cristã podia ter atravessado o Tejo para os lados de Ródano, avançando para sul a marchas nocturnas e cautelosas e cautelosas, esgueirando-se, por entre os raríssimos postos muçulmanos mais subtis e ágeis.

Uma vez em Orick, acudiram à riposta os seus emires mais próximos.

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