Afonso Henriques proclamado Rei no campo da batalha |
AFONSO HENRIQUES
Nosso Rei Fundador
(continuação)
Batalha de Ourique (II)
A crónica mais antiga, de Duarte Galvão
(1446 – 1517), refere claramente: «… andando (D. Afonso Henriques) suas
jornadas, veio a um lugar, que ora se chama Cabeça de Rei junto a Castro
Verde…». Esta localidade, assim assinalada não dista mais que um bom galope do
sítio em que o Infante se encontrou com o rei Imar.
Mas, para além do mais, pode dizer-se
que a batalha de Campo De Ourique decorreu num verdadeiro mundo das três dimensões.
O jovem príncipe, seu protagonista, herdou um reino que para o Sul que não
possuía cancelas nem fronteiras. Aberto como um descampado. Pobre, ambicioso e
cristão e, para cúmulo, longe a muita soma de léguas da corte, logo percebeu
que a extremidade Sul do território com a sua elasticidade, era para onde devia
convergir as suas melhores atenções.
Para engrandecer-se era por ali que
devia acometer, para dar lustro à sua espada era aquele quadrante o mais
favorável e, já agora, para resolver determinados apuros económicos e
financeiros pois que, a lei daquele tempo, permitia fazer mão baixa sobre os
haveres dos vencidos.
Melhor não havia, portanto, que assaltar
moiros repletos de toda a espécie de gados e de frutos. Nos agregados urbanos
acumulavam-se riquezas de gerações de potentados árabes e de ricos judeus.
Daqui ,
a guerra incessante com o moiro, esse contínuo malhar de martelo e bigorna,
empurrando aquele cada vez mais para longe, pilhando-o nas deslocações.
Por cada légua de território não se encontrava
um moiro. A moirama era uma escumalha escassa na grande área peninsular. Nada
de população rural. O que havia eram nódulos populacionais distantíssimos uns
dos outros: Alcácer, Setúbal, Palmela, Almada, Lisboa, Santarém, Sintra,
Leiria.
Foi sempre assim até ao resto. Salvo a
Andaluzia e o Algarve a dominação árabe não foi mais do que babugem. Regra
geral a Hispânia era deserta, terra de ninguém.
Do alto das torres e atalaias, os vigias
bem espiavam com olhos de lince o que decorria nas redondezas. Podiam acaso
penetrar na escuridão e ver o que se passava à chama indecisa das estrelas?
O cronista Duarte Galvão reza deste modo
a marcha do príncipe para o Sul… «passou o Tejo e as charnecas mui grandes e
despovoadas que ainda hi há e então seriam maiores…»
Afonso Henriques largava com o
lusco-fusco das cidadelas, Coimbra, Guimarães, Lamego, à testa da sua coluna,
tal como os antigos lusitanos. Todos montados. Cada cavaleiro levava o seu
surrão provido para a jornada.
Pernoitavam no recesso dos bosques e nas
brenhas dos montes, e os garranos pastavam onde havia erva. Ao cabo de cinco,
seis dias de marcha caíam sobre o infiel, inopinadamente, como gerifaltes.
Assim teria sucedido na gesta de Ourique.
A hoste cristã podia ter atravessado o Tejo para os lados de Ródano, avançando
para sul a marchas nocturnas e cautelosas e cautelosas, esgueirando-se, por
entre os raríssimos postos muçulmanos mais subtis e ágeis.
Uma vez em Orick, acudiram à riposta os
seus emires mais próximos.
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