quarta-feira, novembro 28, 2012


"O roubo das galinhas".
 (Luís Fernando Veríssimo)


História deliciosa...


Transposição para a justiça portuguesa?...




Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

      D - Delegado
      L - Ladrão

     - Que vida mansa, hein, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

     - Não era para mim não. Era para vender.

  - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

     - Mas eu vendia mais caro.

     - Mais caro?

    - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos castanhos.

    - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

     - Os ovos das minhas eu pintava.

    - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)
       
Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

- Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..

- E o que você faz com o lucro do seu negócio?

- Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e super facturo os preços.

      O delegado mandou pedir um cafézinho para o preso e perguntou se estava confortável na cadeira, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

 - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

 - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

 - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

 - Às vezes. Sabe como é.

 - Não sei não, Excelência. Me explique.

 - É que, em todas essas minhas actividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

- O que é isso,  Excelência? O senhor não vai ser preso não.

- Mas fui pegado em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

- Sim. Mas com esses antecedentes...e respectivas equivalências... Prof. DOUTOR... Preso ???... Nem pensar!!

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