terça-feira, novembro 27, 2012

Gabriela não gostava de jóias caras...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 149


Na casa de Dª Arminda, curvada sobre a costura, ainda roxa dos golpes, Gabriela pensa. Pela manhã pulou o muro, antes da cabrocha chegar, entrou na casa de Nacib, varreu e limpou. Tão bom seu Nacib! Bateu nela estava com raiva. A culpa era dela porque aceitara casar? Vontade de sair com ele na rua, de braço dado, aliança no dedo. Medo talvez de perdê-lo, de um dia ele casar com outra, mandá-la embora. Foi por isso certamente. Fez mal, não devia aceitar. Antes fora a pura alegria.

Bateu-lhe com raiva, tinha direito até de matá-la. Mulher casada que engana o marido só merece morrer. Todo o mundo dizia, Dª Arminda lhe disse, o Juiz confirmou, era assim mesmo. Ela merecia morrer. Ele era bom, dera-lhe apenas uma surra e a expulsara de casa. Depois o juiz perguntou se ela não se importava de desfazer o casamento como se nunca tivesse casado.

Avisara-a que assim não teria direito a nada do bar, do dinheiro do banco, da casa na ladeira. Dependia dela. Se não aceitasse, ia demorar na justiça, ninguém podia saber como o processo terminaria. Se ela concordava… Não queria outra coisa. O Juiz lhe explicara: era como se nunca tivesse sido casada. Melhor não podia ser… Porque, sendo assim, não havia motivo para seu Nacib se ofender. Com as pancadas importava não… Mesmo se a matasse, não morria com raiva, ele tinha razão.

Mas se importava de estar expulsa da casa, de não poder vê-lo, sorrir para ele, escutá-lo, falar, sentir sua perna pesada em cima das ancas, os bigodes fazendo-lhe cócegas no pescoço, as mãos tocando-lhe o rosto, os seios, a bunda, as coxas, o ventre.

O peito de seu Nacib como um travesseiro. Gostava de adormecer com o rosto enfiado nos cabelos do largo peito amigo. De cozinhar para ele, de ouvi-lo elogiar a comida gostosa. De sapatos, gostava não. Nem de ir de visitas às famílias de Ilhéus. Nem das festas, dos vestidos caros, das jóias verdadeiras, custando tanto dinheiro. Gostava não. Mas gostava de seu Nacib, da casa na ladeira, do quintal de goiabas, da cozinha e da sala, do leito do quarto.

O Juiz lhe dissera: mais uns dias e já não seria casada e nunca tinha sido. Nunca tinha sido… Que engraçado!

Era o mesmo Juiz que a casara, aquele que antes tanto quisera botar casa para ela. Ainda agora lhe falara nisso. Queria não, um velho sem graça. Mas boa pessoa. Se já não seria casada, e nuca tinha sido, porque não podia voltar para casa de seu Nacib pró quartinho dos fundos, cuidar da cozinha, da roupa lavada, da arrumação?

Dª Arminda disse que nunca mais seu Nacib tornaria a fitá-la, a dizer-lhe bom dia, a falar com ela. Mas porquê tudo isso, se já não eram casados, se nunca tinham sido?

Com mais alguns dias… dissera o juiz. Ficara pensando: agora podia voltar outra vez para seu Nacib. Não quisera ofendê-lo, não quisera magoá-lo. Mas o ofendera porque era casada, mas o magoara porque deitara com outro na sua cama sendo casada.

Um dia percebera que ele tinha ciúmes. Um homem tão grande, era engraçado. Tomara tento, desde então, muito cuidado, porque não queria que ele sofresse. Coisa mais tola, sem explicação: porque os homens tanto sofriam quando uma mulher com quem deitavam deitava com outro?

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