Gabriela não gostava de jóias caras... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 149
Na casa de Dª Arminda, curvada sobre a
costura, ainda roxa dos golpes, Gabriela pensa. Pela manhã pulou o muro, antes
da cabrocha chegar, entrou na casa de Nacib, varreu e limpou. Tão bom seu
Nacib! Bateu nela estava com raiva. A culpa era dela porque aceitara casar?
Vontade de sair com ele na rua, de braço dado, aliança no dedo. Medo talvez de
perdê-lo, de um dia ele casar com outra, mandá-la embora. Foi por isso
certamente. Fez mal, não devia aceitar. Antes fora a pura alegria.
Bateu-lhe com raiva, tinha direito até
de matá-la. Mulher casada que engana o marido só merece morrer. Todo o mundo
dizia, Dª Arminda lhe disse, o Juiz confirmou, era assim mesmo. Ela merecia
morrer. Ele era bom, dera-lhe apenas uma surra e a expulsara de casa. Depois o
juiz perguntou se ela não se importava de desfazer o casamento como se nunca
tivesse casado.
Avisara-a que assim não teria direito a
nada do bar, do dinheiro do banco, da casa na ladeira. Dependia dela. Se não
aceitasse, ia demorar na justiça, ninguém podia saber como o processo
terminaria. Se ela concordava… Não queria outra coisa. O Juiz lhe explicara:
era como se nunca tivesse sido casada. Melhor não podia ser… Porque, sendo
assim, não havia motivo para seu Nacib se ofender. Com as pancadas importava
não… Mesmo se a matasse, não morria com raiva, ele tinha razão.
Mas se importava de estar expulsa da
casa, de não poder vê-lo, sorrir para ele, escutá-lo, falar, sentir sua perna
pesada em cima das ancas, os bigodes fazendo-lhe cócegas no pescoço, as mãos
tocando-lhe o rosto, os seios, a bunda, as coxas, o ventre.
O peito de seu Nacib como um
travesseiro. Gostava de adormecer com o rosto enfiado nos cabelos do largo
peito amigo. De cozinhar para ele, de ouvi-lo elogiar a comida gostosa. De
sapatos, gostava não. Nem de ir de visitas às famílias de Ilhéus. Nem das
festas, dos vestidos caros, das jóias verdadeiras, custando tanto dinheiro.
Gostava não. Mas gostava de seu Nacib, da casa na ladeira, do qui ntal de goiabas, da cozinha e da sala, do leito
do quarto.
O Juiz lhe dissera: mais uns dias e já
não seria casada e nunca tinha sido. Nunca tinha sido… Que engraçado!
Era o mesmo Juiz que a casara, aquele
que antes tanto qui sera botar casa
para ela. Ainda agora lhe falara nisso. Queria não, um velho sem graça. Mas boa
pessoa. Se já não seria casada, e nuca tinha sido, porque não podia voltar para
casa de seu Nacib pró quartinho dos fundos, cuidar da cozinha, da roupa lavada,
da arrumação?
Dª Arminda disse que nunca mais seu Nacib
tornaria a fitá-la, a dizer-lhe bom dia, a falar com ela. Mas porquê tudo isso,
se já não eram casados, se nunca tinham sido?
Com mais alguns dias… dissera o juiz.
Ficara pensando: agora podia voltar outra vez para seu Nacib. Não qui sera ofendê-lo, não qui sera
magoá-lo. Mas o ofendera porque era casada, mas o magoara porque deitara com
outro na sua cama sendo casada.
Um dia
percebera que ele tinha ciúmes. Um homem tão grande, era engraçado. Tomara
tento, desde então, muito cuidado, porque não queria que ele sofresse. Coisa
mais tola, sem explicação: porque os homens tanto sofriam quando uma mulher com
quem deitavam deitava com outro?
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