- Nosso 1º Rei – O Fundador
(continuação)
Aceitou o Infante o desafio,
todavia não sem que primeiro retorqui sse
ao conde:
- Sair eu de Portugal? Deus não há-de permitir
que a rosa do sol cubra tal iniqui dade!
A terra é minha que muito bem a ganhou meu pai.
- Minha é que ela é – replicou Dª Teresa – que
ma deu e deixou D. Afonso de Castela, meu pai e imperador.
- Pois ver-se-á quem é o dono.
Encontraram-se nos
arrabaldes de Guimarães e Dª Teresa estava ao lado do conde a ampará-lo na
peleja com suas amabilidades de amor.
O Infante foi desbaratado e
só o galope de um bom ginete o pôde salvar. A uma légua de Guimarães corria
ainda a bom correr quando topou com a hoste de Egas Moniz, seu aio. Assim que
este foi inteirado do corrente da batalha, repreendeu severamente o Infante,
dizendo-lhe:
- Andaste mal em cometer o combate, sem eu
estar. Mas tornemos atrás que talvez ainda seja tempo de virar a roda da
fortuna.
Volveram ao campo e, porque
o Infante atacasse de improviso, a gente do conde estivesse quebrantada da
refrega havida antes, ou porque defrontasse agora menor poder, ganharam a
batalha.
O conde saiu de Portugal,
como cumpria a sua palavra de cavaleiro, mas a mãe, que fora impiedosa e a quem
guardava rancor, sem falar na sua desumanidade, pelo opróbrio lançado à memória
do conde D. Henrique, meteu-a em ferros, pouco caso fazendo das suas juras e
imprecauções:
- Maldito sejais, filho D. Afonso, víbora que
trouxe nove meses nas entranhas! Deserdais-me da terra que me deixou meu pai, qui tais-me meu marido, e ainda por cima me
prendeis!... Terás o pago! Hoje deitais-me ferros às pernas que vos trouxeram
quando eras menino, mas com ferros haveis de ter as vossas quebradas, que a
Deus o peço e Deus Nosso Senhor há-de ouvir-me!
Além das maldições, que era
o menos, teve artes Dª Teresa de passar recado a D. Afonso VII de Castela,
estimulando-o que, pois Portugal lhe pertencia de direito, viesse, tanto por
recobrar o que era seu como pelo que devia à virtude, acudir a sua tia,
arrancada ao marido e metida em prisão tão desonesta.
O rei castelhano, que era
impulsivo e grandioso mandou logo aprestar os seus homens de armas de Castela,
Leão e Galiza e, em grande espavento, marchou contra o Infante de Portugal.
Este saiu-lhe ao encontro em
Arcos de Valdevez, infligindo-lhe tal derrota que lhe aprisionou sete condes e
infinitos cavaleiros e ele, ferido com duas lançadas, teve de largar à rédea
solta para Toledo, com medo de perder aquela cidade.
Mas este homem impetuoso
tinha-se por imperador das Espanhas e perante “hombres e Dios” jurou lavrar a
desforra.
Em força maior ainda entrou
em terra portuguesa e, de improviso, foi cercar o Infante em Guimarães,
desapercebida de toda a espécie de provisões.
Foi então que Egas Moniz,
homem do melhor engenho e muitos recursos de entendimento, foi à procura do rei
castelhano e teve com ele esta conversa alada e dulcerosa que mereceria ser
apontada entre as subtilezas dos sábios:
(continua)
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